A indústria brasileira de nanossatélites está em pleno desenvolvimento. Recentemente o Brasil lançou ao espaço um satélite de 12kg, que, de acordo com a revista Pesquisa Fapesp, tinha tamanho semelhante ao de uma caixa de sapatos. A empresa responsável pelo lançamento foi a Visiona Tecnologia Espacial, joint venture da Embraer Defesa e Segurança e da Telebrás. O VCUB1, como foi batizado, é o primeiro nanossatélite de alto desempenho projetado e desenvolvido no país.
Valores dos nanossatélites
O dispositivo custou pouco mais de R$ 30 milhões, sendo que R$ 2,9 milhões foram investidos pela Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação (Embrapii). Diferentemente dos satélites convencionais, que custam entre US$ 150 milhões e US$ 400 milhões, os nanossatélites são considerados baratos. No entanto, têm menor tempo de vida útil, podendo variar de três a cinco anos.
Os nanossatélites e microssatélites movimentaram US$ 2,8 bilhões em 2022. A estimativa é de que esse mercado alcance US$ 6,7 bilhões até 2027, segundo análise da consultoria norte-americana Markets and Markets.
Iniciativa pioneira
A utilização de nanossatélites para aplicação na área comercial é uma iniciativa pioneira. Até pouco tempo, eles eram destinados apenas ao uso científico ou educacional.
A edição 328 da Revista Pesquisa Fapesp, lançada em junho de 2023, apresenta o assunto de forma detalhada. De acordo com a publicação, a expectativa da Visiona Tecnologia Espacial é validar o software embarcado, usando as informações coletadas para complementar e aperfeiçoar serviços de sensoriamento remoto e telecomunicações. Hoje, a empresa já utiliza essa estratégia para os clientes, mas tendo como base as informações e os dados registrados em satélites de terceiros.
Incrementos tecnológicos
O nanossatélite projetado e desenvolvido no Brasil conta com uma câmera reflexiva de observação. Trata-se de um sistema óptico formado por três espelhos, capaz de coletar imagens da superfície terrestre com resolução espacial de 3,5 metros. Para ter uma noção real da alta capacidade técnica do VCUB1, se ele fosse instalado em Campinas (SP), poderia fotografar um caminhão passando pelas ruas do Rio de Janeiro (RJ).
Esse sistema óptico foi desenvolvido pela Opto Space & Defense e Equatorial Sistemas, com apoio da FAPESP e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).
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Indústria brasileira de nanossatélites
O VCUB1 deve coletar imagens de alta qualidade e contribuir com a coleta de dados de uso meteorológico e apoio a atividades do setor agrícola. O nanossatélite cruzará todo o território nacional várias vezes ao dia, fazendo o monitoramento de lavouras em locais afastados, por exemplo, e facilitando a identificação de áreas de baixa produtividade.
Outra finalidade importante do VCUB1 é que ele poderá auxiliar o Brasil na prevenção de desastres naturais, uma vez que ele fará o monitoramento ambiental. Já para as cidades, ele poderá ter outros usos, como ser associado à área de segurança nas smart cities (cidades inteligentes).
Em entrevista para a Pesquisa Fapesp, representantes da Visiona declararam que é preciso validar a tecnologia para lançar satélites ainda mais complexos. “Para isso, precisávamos de uma arquitetura que fosse escalável e um software embarcado confiável”, diz João Paulo Campos, presidente da empresa. Para ele, o VCUB1 colocou o Brasil em um grupo seleto de nações que dominam todo o processo de desenvolvimento de satélites.
Fábio de Oliveira Fialho, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), declarou à Pesquisa Fapesp que o nanossatélite da Visiona rompeu algumas barreiras tecnológicas. “O VCUB1 permitirá à empresa explorar, em diferentes camadas, dados de alta qualidade, agregando mais valor aos serviços que oferece a seus clientes.”
Força tarefa em prol da indústria brasileira de nanossatélites
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) também participou da força tarefa para o desenvolvimento do nanossatélite. Na ocasião, a função da Embrapa foi definir as cores que o satélite iria enxergar para o monitoramento de lavouras.
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) também participou da iniciativa, apoiando na concepção do projeto com engenharia de sistemas, montagem, integração e testes do satélite.
O Instituto Senai de Inovação em Sistemas Embarcados (ISI-SE), em Florianópolis (SC), foi outro participante do projeto. O ISI-SE foi responsável pela construção e testes da estação de terra e dos softwares que fazem a integração do computador de bordo com os componentes embarcados, com financiamento da Embrapii. O ISI-SE também está envolvido em outro programa, o Constelação Catarina, criado pela Agência Espacial Brasileira (AEB). A iniciativa pretende colocar em órbita 13 nanossatélites nos próximos anos.
O Brasil ainda não é referência na exploração espacial comercial, mas a indústria brasileira de nanossatélites está se posicionando com potencial para isso.