Parceria Editorial
No processo de digitalização da Saúde, o Open Health é uma das principais apostas para o setor. O objetivo desse modelo aberto de compartilhamento de dados é a promoção de mais transparência e concorrência na área. Dentro desse contexto, a interoperabilidade se torna um elemento fundamental para viabilizar a implementação do Open Health no Brasil.
O conceito de interoperabilidade está relacionado à capacidade de diferentes sistemas de informação interagirem entre si, acessando e trocando dados de uma forma organizada e com o objetivo de fornecer uma portabilidade de informações, conforme explica Marcelo Ruiz, gerente de desenvolvimento de negócios e soluções digitais em Saúde na Embratel. Na saúde, é um fator estratégico para a melhoria do sistema como um todo.
De maneira resumida, significa dar ao paciente o poder de compartilhar suas informações de saúde, previamente reunidas em um histórico, com o médico que vai fazer seu atendimento, independentemente se este é seu primeiro contato com aquele profissional ou não. Assim, todo o histórico da condição de saúde do paciente pode ser levado em consideração no momento do diagnóstico.
A interoperabilidade também tem seus desafios. Um deles é fazer com que diferentes sistemas de instituições distintas se comuniquem entre si. Teresa Sacchetta, diretora de desenvolvimento de negócios em saúde na InterSystems Brasil, explica que, para dois sistemas interoperarem, é preciso que ambos “falem a mesma língua”. Ou seja, utilizem o mesmo padrão de nomenclatura. Porém, mesmo existindo padrões internacionais estabelecidos para diferentes domínios da saúde de diagnósticos, procedimentos e codificação de exames, a maioria não foi adotada aqui no Brasil, o que dificulta essa comunicação. “Quando falamos em compartilhamento de dados, há a necessidade da criação de um repositório clínico unificado, entre dados de saúde pública e privada.”
Etapas da interoperabilidade
Marcelo Ruiz também chama atenção para o fato de que o sistema de saúde é complexo por natureza. Por ser um ambiente muito sensível e por não ser tolerável a falhas, o emprego da tecnologia e a adesão à interoperabilidade devem ser pensados em etapas. A primeira delas é a identificação das muitas conexões que permeiam um ambiente de saúde. “Dentro de uma instituição há centenas de sistemas operando, são muitas conexões para serem geridas. Com isso, existe um custo muito alto de equipes profissionais de TI, que precisam ser capacitadas e especializadas em diferentes sistemas e tecnologias para fazer toda essa gestão”, destaca Ruiz.
Diante disso, uma das primeiras etapas da interoperabilidade deve ser a criação de um barramento único, em que todas as plataformas se conectem sem que sejam necessárias múltiplas conexões entre elas. “Isso representa um ganho operacional muito significativo, visto que a equipe de TI pode fazer a gestão dessas conexões dentro da própria plataforma, garantindo uma melhor disponibilidade dos sistemas e aumentando a capacidade de atendimento, com mais eficiência.”
Todo esse processo de digitalização do setor da saúde tem como principal foco melhorar a condição das pessoas, sejam elas os pacientes, os médicos, os profissionais que atuam em diferentes áreas da saúde ou os gestores das instituições e das empresas. E este é o propósito que orienta a segunda etapa do processo de interoperabilidade: colocar as pessoas no centro do cuidado.
“Se você não tem o histórico desse paciente e não sabe quais tratamentos já foram adotados e quais surtiram efeito, podem existir consequências como o agravamento da condição de saúde desse paciente e maiores custos ao longo do tratamento. Então, essa continuidade ao cuidado quando se fala em interoperabilidade é fundamental para melhorar a jornada desse paciente.”
Uma terceira etapa é disponibilizar os dados de saúde para o próprio paciente, para que ele passe a atuar como agente do próprio cuidado, buscando a melhoria de sua condição de saúde com ações de prevenção e hábitos mais saudáveis. Por fim, a gestão de saúde populacional também é uma questão estratégica, para identificar quais são os ofensores à saúde e a partir disso implementar ações de promoção à saúde.
Cultura digital para profissionais de saúde e cidadãos
Outro desafio a ser superado é o fator cultural. “A tecnologia ainda é vista nas empresas como custo e não como algo que pode, de fato, transformar o negócio, como vemos nos outros setores cada vez mais”, diz Teresa Sacchetta. “É preciso que os profissionais de saúde deixem de lado o medo de perder o controle ou espaço. É o oposto, queremos extrair o melhor que os humanos e os profissionais de saúde têm a oferecer ocupando esses outros espaços com os dados, algoritmos, Inteligência Artificial. É muito importante essa parte de educação dos profissionais de saúde, mas também da população, porque sem a adesão a toda essa transformação, acabamos não chegando a lugar nenhum”, ressalta Roberta Arinelli, diretora médica na ORIGIN Health e editora-executiva na MIT Technology Review Brasil.
A este problema, soma-se outras questões que aumentam esse desafio, como a falta de mão de obra qualificada, que muitas vezes não considera trabalhar na área da Saúde, ou mesmo a questão da segurança e da privacidade de dados que são muito sensíveis e precisam ser protegidos. “Mesmo que isso, muitas vezes, seja uma hipocrisia, pois esses dados em papel também estão expostos a muitos riscos”, pontua Teresa Sacchetta. Ela explica, ainda, que nos EUA, por exemplo, as empresas em um primeiro momento receberam incentivos e depois passaram a receber sanções e multas se não estivessem compartilhando as informações da forma que deveriam. Já em países nórdicos, a questão da cultura de compartilhamento é muito viva. “Para eles é muito natural que o dado acompanhe o paciente e isso é muito benéfico para o sistema de saúde como um todo. O sistema é público e existe todo o interesse que haja mais transparência, provendo uma assistência de mais qualidade a um custo menor.”
Para Roberta Arinelli, a possibilidade de ter acesso a dados de toda a população virtualmente vai gerar muito valor para o sistema de saúde como um todo. “Já se vê algumas operadoras trabalhando com dados, mas muito preocupadas com a coleta de informações administrativas. A partir do momento que se começa a coletar dados de desfechos clínicos e indicadores você consegue melhorar a saúde tanto do ponto de vista de saúde populacional, mas também de maneira individualizada, mapeando marcadores genéticos, o melhor tratamento para cada paciente, terapias dirigidas. Na saúde de maneira geral é inimaginável onde se pode chegar quando estivermos em posse e análise de todos esses dados.”