Sessenta por cento (60%) do tempo nos hospitais é gasto com processos burocráticos, incluindo a produção de documentos em papel e o uso de carimbos. A informação de Diego Aristides, CTO do Sírio-Libanês, sinaliza para um grande potencial de disrupção tecnológica no setor.
“Os hospitais que vão sobreviver devem ser empresas de tecnologia, que entregam serviços de saúde, e não o contrário”, argumenta.
No caso da instituição paulista, a jornada já começou e um dos estágios é a criação da Alma Sírio-Libanês, que Aristides define como um ecossistema de tecnologia voltado para a área de saúde, inclusive com aplicação de recursos de Inteligência Artificial (AI). Criada no ano passado, a iniciativa envolve pelo menos 300 profissionais da instituição e foi tema de uma apresentação durante a Web Summit Rio.
Personalização da saúde envolve gestão de dados e inteligência artificial
“A Alma é a nossa vertical de tecnologia e inovação, com pessoas trabalhando em uma plataforma de saúde digital, o que inclui, também, um grande número de startups”, resume o executivo. De acordo com ele, a ambição do Sírio-Libanês é funcionar como um hospital guiado por dados, o que vai permitir que a instituição ofereça um cuidado mais personalizado e uma medicina de precisão.
Aristides lembra que, dentro dessa nova visão, a meta do hospital é ir além de seus muros, com uma trajetória que não se limita ao espaço físico que a instituição ocupa. Parte do processo já acontece, por exemplo, no caso das ambulâncias conectadas, que repassam informações de pacientes ao pronto atendimento do hospital, adiantando os procedimentos e reduzindo o tempo de intervenções.
Em sua apresentação no Web Summit Rio, Aristides mostrou uma rota digitalizada de atendimento futura. No caso, o atendimento de um paciente cardiológico, desde o momento que ele se sente mal até a intervenção no hospital. O paciente imaginário do sistema pensado pelo Alma usa um serviço de monitoramento digital de saúde e seus dados básicos são capturados por um relógio inteligente. É esse dispositivo que aciona o primeiro alerta.
Com o sinal vermelho, o médico de referência passa a acompanhar remotamente o caso, com acesso ao histórico de paciente e, inclusive, a gestão da medicação. Em um cenário sofisticado – mas não impossível – pode-se identificar se o paciente está tomando a medicação (chip que indica abertura na embalagem do produto) ou não.
Com essas informações em mãos e com ajuda da IA, o profissional de medicina pode avançar no diagnóstico, pois houve embasamento por meio da análise rápida dos recursos de Inteligência Artificial. Se puder, por meio de teleconferência, este profissional consegue refinar as informações e a tecnologia coleta mais dados, como os níveis de pressão arterial, pela leitura inteligente da dilatação das pupilas.
A conversa gravada, por sua vez, é enviada no formato de texto, para a equipe de pronto atendimento. Na ambulância, os dados continuam a ser melhorados, empacotados e despachados para o time que aguarda o paciente no pronto atendimento.
Nessa rota imaginária, o processo continua tanto na hospitalização – com recursos de Internet das Coisas (IoT) monitorando o estado do paciente – até a alta digital remota e outros serviços oferecidos posteriormente.
“Não temos a jornada completa ainda, mas parte dela já acontece”, adianta Aristides. Na sua defesa do modelo, ele não só cita o exemplo do Sírio-Libanês, como também a tendência atual de compra ou criação de hospitais por grupos de tecnologia como o TikTok, indicando que a saúde é uma fronteira digital em franco desenvolvimento.
“Estamos falando de high tech, combinado com high touch”, finaliza, ao explicar que a tecnologia não vai substituir a experiência dos profissionais de saúde, mas sim completar as habilidades.