Mulheres na Tecnologia

O papel das femtechs no fomento do empreendedorismo feminino digital

O papel das femtechs no fomento do empreendedorismo feminino digital

7 minutos de leitura

No Dia Internacional da Mulher, Mundo + Tech aborda o conceito de femtechs e conversa com Dani Junco, CEO da B2Mamy, sobre protagonismo feminino.



Por Redação em 08/03/2021

No Dia Internacional da Mulher, Mundo + Tech aborda o conceito de femtechs e conversa com Dani Junco, CEO da B2Mamy, sobre protagonismo feminino.

O Dia Internacional das Mulheres em 2021 será uma data diferente para as mulheres empreendedoras. Um levantamento divulgado na semana passada pelo Sebrae Nacional mostrou que o impacto econômico da pandemia do COVID-19 interrompeu um movimento consistente do crescimento da representatividade das mulheres no empreendedorismo.

Segundo o Sebrae, cerca de 1,3 milhão de mulheres deixaram de liderar seus negócios num espaço de um ano (entre o terceiro semestre de 2019 e o período correspondente em 2020).

O motivo? Para Renata Malheiros, coordenadora do Projeto Sebrae Delas, este movimento está ligado à cultura brasileira que define para a mulher o papel de dona de atividades domésticas.

“Com a pandemia, essa situação foi agravada. As crianças permaneceram mais tempo em casa ao longo de 2020 e os idosos exigiram mais cuidados por parte da família. Essas tarefas, além daquelas que já eram depositadas nos ombros das mulheres, comprometeram a dedicação das empresárias ou potenciais empreendedoras”, disse Malheiros à Agência Sebrae de Notícias.

Empreendedorismo feminino digital

Apesar dos impactos da COVID-19 nos negócios dirigidos por mulheres, há um movimento para fomentar e potencializar o empreendedorismo feminino digital: são as femtechs, startups que desenvolvem soluções digitais para e, tão importante quanto, pelas mulheres.

Um levantamento da consultoria Emergent Research, divulgado pela Forbes, mostrou que as femtechs movimentaram US$ 18,75 bilhões em 2019. A expectativa é que este segmento tenha um crescimento anual de 15,6%, atingindo US$ 60 bilhões até 2027.

O que são femtechs?

Femtech é a junção das palavras “feminino” (fem) e “tecnologia” (tech). Geralmente são startups que desenvolvem aplicativos, plataformas, sistemas baseados em Inteligência Artificial, entre outras soluções com o intuito de resolver questões relacionada ao universo feminino.

Sem contar que as femtechsaproximam ainda mais as mulheres da tecnologia, uma vez que grande parta das startups são criadas por homens, como destaca Dani Junco, CEO da B2Mamy, empresa que capacita e conecta mães ao ecossistema de inovação e tecnologia.

“Temos várias soluções digitais para mulheres, mas não são criadas por mulheres e essas plataformas têm vários vieses, porque não estávamos presentes na concepção dessas ideias”, diz Dani sobre o ecossistema de startups.

Apesar de o Brasil ser um país inovador, ter mulheres protagonistas na concepção de suas próprias ideias ainda é um desafio, principalmente na área de tecnologia. Elas representam apenas 14% do quadro de pessoas que fundaram uma startup, destaca Dani.

Startup tem um risco muito maior, porque você está falando de tecnologia ou de um negócio que vai mudar a forma das pessoas verem as coisas. Então, o investimento e dinheiro são necessários, gerando também um risco”, explica Dani Junco.

Mesmo assim, apesar de um movimento tímido, diversas femtechs já identificaram nichos de negócios voltados para mulheres. Existem 5, de acordo com Alied Monica, cofundadora do Elas&VC, movimento de apoio, conexão e inspiração para mulheres empreendedoras, investidores e executivas em tecnologia e Venture Capital.

  1. Fertilidade
  2. Saúde sexual e ginecológica
  3. Estilo de vida e bem-estar
  4. Gravidez e maternidade
  5. Doenças crônicas

“É preciso fomentar os recortes das mulheres”, diz Dani

O cenário empreendedor não será o mesmo por conta da pandemia. Porém, a realidade para as mulheres é totalmente diferente, ainda mais quando parte delas são mães. Como falamos mais no início do texto, ainda recai sobre as mulheres – de maneira desproporcional – a responsabilidade pela realização de tarefas domésticas e de cuidado.

Como equilibrar todas essas responsabilidades?

O Mundo + Tech conversou com Dani Junco sobre como surgiu a ideia de criar o B2Mamy, o empreendedorismo feminino digital e o papel da mulher na tecnologia.

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Dani Junco, CEO da B2Mamy: missão é tornar as mulheres líderes economicamente. Foto: Divulgação

Uma dor e um convite para um café: o início da B2Mamy

Dani Junco: Eu estava grávida em 2015 e eu fiz uma pergunta em uma rede social depois que comecei a me dar conta de que ia mudar tudo com a chegada do meu filho. A pergunta que fiz foi “Tá doendo demais pensar em como vou equilibrar a vida pessoal com a vida materna. Dói em mais alguém? Vamos tomar um café?”. Pensei que cinco pessoas iriam aceitar o convite e vieram 80 mulheres. Naquele dia que elas chegaram com essas confusões, com dúvidas sobre suas carreiras, porque tem um dado que mostra que de 4, entre 10 mulheres, não conseguem retomar suas carreiras após a licença-maternidade. E a penalidade da maternidade é uma coisa que acontece com a gente. Nossas carreiras chegam a atrasar até seis anos e ainda há muitas empresas desconectadas em relação a esse problema. Quando fomos tomar café, percebi duas situações acontecendo: transição de carreira, motivadas por um propósito, e a outra é que elas precisavam empreender. Tinham ideias incríveis de negócios, mas não sabiam como colocar de pé esses negócios. Lá em 2015, então, a gente começa a se encontrar e o número de mulheres foi crescendo, 100, 200, 500…. Já em 2016, em uma conversa dentro de um espaço de inovação, ouvi que mães e startups em estágios iniciais não conseguiriam ser CEOs, porque elas deveriam ou ser mães ou empreendedoras. Assim nasceu a B2Mamy.

Que tem o objetivo de…

DJ: A B2Mamy nasce buscando ter espaços de convivência tanto físico como de capacitação. Nosso grande objetivo, como empresa de educação e conexão, é tornar as mulheres líderes livres economicamente. É por isso que a gente passou a olhar para esse mercado. No início, 80 mulheres que vieram tomar o café, hoje já são 30 mil.

O impacto da B2Mamy no ecossistema

DJ: Nessa jornada da B2Mamy muitas empresas passaram a conversar com a gente para entender como nós estávamos construindo essa oportunidade [de empreendedorismo feminino] tão potente, tão forte, que movimenta tanto a economia. As empresas começaram a faturar em nosso programa de aceleração, juntas elas faturaram quase R$ 7 milhões.

Os aprendizados de ser uma comunidade

DJ: Eu comecei a aprender [com as mães empreendedoras] que o que a gente faz é, primeiro, falar que elas podem. Parece tão óbvio e tão simples, mas para quem é homem. Para as mulheres não é tão simples assim. Há muito tempo a gente ouve que não pode e quando está com filhos é pior ainda. Então, nesse lugar de poder a gente fala “elas podem, mas tem um jeito de fazer as coisas”. Por isso, um dos aprendizados é juntá-las em redes e ver como é que a gente pode colocar os negócios delas de pé. E os números falam por si só. Então, um dos grandes aprendizados foi realmente isso.

Sobre as barreiras sociais e econômicas para empreender

DJ: Nós influenciamos a economia. Mas, a mulher e mãe ainda são muito demitidas e, durante a pandemia, o número de demissão foi maior: 25% em relação aos homens. A economia do cuidado é invisível, então todo tempo em relação à casa e à família não são colocados na conta. Então existem várias barreiras sociais para tomar decisões conscientes em relação ao dinheiro. As mulheres empreendedoras têm menos de 2% de investimento-anjo em startups, segundo uma pesquisa que fizemos sobre esse ecossistema e que vamos lançar esta semana. Observamos que as mulheres que participam de rodadas de investimentos ainda são questionadas se são mães ou vão querer ser mães. É algo que não muda muito no mundo corporativo ou de startups.

O cenário de empreendedorismo feminino no Brasil

DJ: O Brasil é um país muito inovador. O país teve o maior aporte de startups nos últimos anos, além disso, é um país que tem metade da população feminina. As mulheres empreendem mais que os homens, quando se fala de economia. Somos responsáveis por 51% dos CNPJs abertos. Mas, quando se fala da área de inovação e tecnologia, representamos somente 14% do quadro de fundadores de startups. Então, quando você olha para esse cenário, é necessário fomentar esse recorte com fundos de investimento, crowndfunding e aceleradoras como a B2Mamy para formar e trazer mais mulheres para a área de tecnologia e inovação.

Soluções digitais pensadas por e para mulheres: as femtechs

DJ: Nessa pesquisa que vamos lançar esta semana, a gente percebeu que várias soluções digitais para mulheres não foram feitas por mulheres. São soluções com vieses que não concordamos e não conseguimos usar, porque não estávamos pensando juntas com quem criou. Nosso grande papel [como aceleradora] é que as mulheres, além de produzirem suas próprias ideias, criem produtos e serviços que facilitem a vida de outras mulheres, as chamadas femtechs. Estamos acelerando bastante e olhando para este mercado tão importante, dando os primeiros cheques para acelerar e colocar essas empresas de pé.

A importância das femtechs

DJ: Aqui na B2Mamy temos, hoje, seis femtechs. Quando a mulher vê que um serviço resolve a vida dela, ela se torna fiel e cria um lastro de rede muito grande. Então, se você lança um produto de uma femtech e se a comunidade de mulheres que você lançou é muito grande, como a B2Mamy, por exemplo, você consegue escalar muito rápido. Talvez até não escalar, mas tracionar muito rápido, validar muito rápido.  Eu acho que esse mercado é incrível e eu adoro. Eu sou uma investidora-anjo de uma solução que fala sobre sexualidade feminina, que está sendo acelerada agora pela Boticário.

Empresas em fase de sensibilização

DJ: A empresas estão em uma fase de sensibilização quando falamos de diversidade. Elas estão entendendo que não faz o menor sentido falar de inovação sem diversidade. Apesar das iniciativas de liderança passarem muito por capacitação, o primeiro passo de CEOs é entender que a diversidade, a igualdade de gente, é importante para a empresa. Dizer que está no DNA, fazer posts no Instagram, mas continuar internamente como uma cultura machista, que não respeita as mulheres é muito para inglês ver ou socialwashing (marketing disfarçado de filantropia). Mas, eu vejo uma melhora e estou otimista, uma vez que a B2Mamy tem sido chamada para fazer consultorias e potencializar as mulheres na liderança, assim como temos vários cursos para a liderança feminina de grandes corporações.

Sobre a B2Mamy

A B2Mamy é uma aceleradora de startups focada em mulheres empreendedoras. Além de oferecer cursos, consultorias e outras iniciativas para fomentar o empreendedorismo feminino, a empresa possui um hub “amigo da família” em São Paulo. Lá, mães e pais podem trabalhar, participar de reuniões e outras demandas enquanto as crianças realizam atividades lúdicas.

A ideia, segundo Dani Junco, é que o espaço seja um local acolhedor para trazer o protagonismo feminino e que as mulheres compartilhem suas histórias para outras mulheres. Mais informações do hub podem ser encontradas no site da B2Mamy.

Principais destaques desta matéria

  • Femtechs são startups criadas por mulheres com foco em soluções digitais para mulheres.
  • Segmento tem crescido globalmente e deve gerar até US$ 60 bilhões em 2027.
  • Confira uma entrevista com Dani Junco, CEO da B2Mamy, sobre femtechs, empreendedorismo feminino e os desafios de ser uma mulher líder.


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