Digitalização e business intelligence são os caminhos para a metrópole latino-americana do futuro
A evolução da tecnologia da informação nos últimos 10 anos modificou a maneira como as pessoas se relacionam em diversas áreas da sociedade. Os smartphones, a conexão quase permanente com a internet, a nuvem e a inteligência artificial estão transformando o modo como nos deslocamos, trabalhamos, mantemos as nossas amizades e nos comunicamos, por exemplo. Mas uma das principais formas de organização da sociedade ainda resiste às evoluções: as cidades.
Diante desse cenário, as maiores aglomerações ao redor do mundo devem encarar o desafio de se modernizarem. Se por um lado as cidades têm que evoluir na maneira de se relacionar com as pessoas para atender às novas exigências dos cidadãos conectados do século XXI, por outro, elas precisam dos ganhos de eficiência trazidos pelas novas tecnologias para suprir as necessidades dos 2,5 bilhões de novos habitantes que passarão a viver em cidades até 2050.
A visão dessa nova cidade, que utiliza as inovações da Tecnologia da Informação para melhor servir o cidadão ao mesmo tempo em que reduz custos e ineficiências, é comumente chamada de Smart City (Cidade Inteligente). São Paulo, como uma das maiores metrópoles da América Latina, deve se tornar ainda mais inteligente para atender melhor os seus 12 milhões de habitantes e continuar a se desenvolver. Além disso, é fundamental a utilização dos seus recursos com sabedoria a fim de não desperdiçar dinheiro com tecnologias que se tornem obsoletas em poucos anos, o que é contrário ao que as cidades estão acostumadas a fazer: investimentos em infraestrutura, como avenidas e redes de esgoto, têm horizonte de 50 anos; em compensação, na Tecnologia da Informação, há 20 anos, o acesso à internet era feito por linha discada, e os telefones celulares eram artigos de luxo.
Assim, São Paulo pode evoluir a partir de dois eixos principais no sentido de se tornar uma cidade inteligente:
(i) maior digitalização de seus processos para obtenção de dados sobre a cidade e o funcionamento dos serviços prestados pelo governo; e
(ii) mais informação com base nos dados já existentes para suportar a tomada de decisão e guiar tanto a criação quanto a execução de políticas públicas.
Para viabilizar isso, é preciso ousar e encontrar formas criativas e inovadoras de lidar com tais questões, o que passa por dois pontos fundamentais:
Disponibilizar a maior quantidade possível de dados abertos sobre os diferentes aspectos da vida na cidade e do funcionamento do governo nas áreas de Saúde, Educação, Mobilidade, Transporte, Segurança, Habitação e demais serviços públicos. Esses dados abertos devem seguir padrões internacionais de formatação, metadados e documentação, sendo disponibilizados por meio de APIs em tempo real.
Criar meios flexíveis de contratação pelo poder público de soluções inovadoras para cidades, tornando possível a criação de start-ups de alta tecnologia com energia e agilidade para inovar.
Nesses termos, já temos várias iniciativas interessantes por parte de algumas prefeituras brasileiras. São Paulo, por exemplo, tanto na gestão passada quanto na atual, tem buscado formas inovadoras de contratação e trabalhado no sentido de disponibilizar dados abertos – embora com um ritmo mais lento do que o ideal. Programas governamentais, como o PIPE da FAPESP, têm fomentado a criação de start-ups de alta tecnologia, o que aumentou o investimento-anjo nessa área. Portanto, oportunidades existem, mas ainda podem ser melhor exploradas por empreendedores, cientistas, grandes empresas e governos.
E apesar de as administrações públicas modernas desenvolverem um trabalho nesse sentido, é fundamental que os governos continuem a caminhar e não se curvem a pressões para adotar soluções fechadas, não interoperáveis e proprietárias, as quais podem ser muito benéficas para grupos específicos, mas não para os cidadãos como um todo.
Dr. Roberto Speicys, Scipopulis
Prof. Fabio Kon, INCT de Cidades Inteligentes, IME-USP
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