Soluções inovadoras para facilitar transações e investimentos foram o eixo do painel A evolução dos pagamentos instantâneos na economia digital global, no Febraban Tech 2024.
Carlos Eduardo Brandt, chefe de departamento do Banco Central do Brasil e coordenador do Fórum PIX, lembrou que as inovações criaram bases para acelerar a digitalização do país e estabeleceram uma estrutura para novos produtos financeiros.
Flávia Davoli, diretora do Santander Brasil, mencionou que o Brasil é o segundo país em pagamentos instantâneos, atrás apenas da Índia. “Até 2028, 25% dos pagamentos serão instantâneos”.
Segundo a executiva, do ponto de vista do pagador não há tolerância a erros e divergências, assim como se quer mais rapidez e transparência nas transações, principalmente no e-commerce. Do lado dos vendedores, os pagamentos instantâneos implicam melhor giro de estoque, simplificação da gestão do fluxo de caixa e segurança.
“Devemos ficar atentos a outras indústrias que criam experiências interessantes para os clientes”, disse Cristina Pinna, diretora de TI Bradesco. A executiva se referiu a inovações como a “gamificação” em aplicativos de transporte ou modelos de vendas cruzadas entre serviços de streaming.
Rodrigo Nardoni, vice-presidente de Tecnologia da B3, observou que a simplificação dos processos por si só aumenta a base para serviços financeiros, inclusive investimentos. “Com Open Finance se podem agregar informações, investir com instituições diferentes e a concorrência acelera a criação de produtos”, enumerou. Ele mencionou o uso do PIX para investimentos no Tesouro Direto. “Não se precisa mais esperar para sensibilizar o saldo na corretora”, disse.
Nardoni também destacou que a possibilidade de migrar entre corretoras da base da B3 fomenta a inclusão no mercado de capitais. “A CVM já fala de open capital market, para portabilidade dos investimentos”, exemplificou. “Hoje o cliente quer transações imediatas e sem erros. Ainda não conheço casos de uso de tokens, mas temos que contar com tecnologias que permitam a liquidação em tempo real”, afirmou.
Brandt identificou alguns paralelos na trajetória do PIX e do padrão para transferências instantâneas entre bancos internacionais IPI (Immediate Payment Instruction). “Se olharmos a adesão, no início o PIX foi impulsionado por transferências entre as pessoas. Com a adoção pelas empresas, surgiram soluções como pagamentos recorrentes ou em pontos fixos”, lembrou.
“As agendas de transações, meios de pagamento e crédito convergem”, disse Davoli. A diretora do Santander antevê cenários em que a intermediação financeira desaparece da experiência não apenas dos clientes, mas das cadeias de valor. “No segmento de Pessoas Jurídicas, os canais digitais dos bancos não tendem a concentrar o volume de transações. Teremos o payment as a service por meio de fornecedores, varejistas, e-commerce e empresas que capturam os clientes (de serviços financeiros) fora dos nossos canais”, descreveu. “Quem vai ganhar são os que conhecem mais os clientes e são capazes de criar cada vez mais conveniência”, avaliou.
Pina, do Bradesco, observou que a estrutura de segurança construída para transações instantâneas abre caminho para outras operações.
Pagamentos instantâneos: segurança, educação financeira e oportunidades de customização
Indagados sobre tendências e perspectivas pelo mediador do painel Leandro Vilain, sócio para práticas de serviços financeiros da Oliver Wyman Brasil, os líderes nos bancos destacaram confiabilidade e transparência como os eixos da criação e escala de aplicações de pagamento instantâneo.
“Um objetivo que valeria todo nosso trabalho é que as pessoas nunca mais tenham um celular para o ladrão (aparelho sem apps financeiras)”, resumiu Davoli, do Santander. “Junto à geolocalização e outros recursos de verificação, cresce o uso de biometria facial e validação de identidade, assim como de capacidade preditiva para prevenção a fraudes”, disse.
“A parte técnica da segurança está bem resolvida. Mas isso não basta; as pessoas precisam confiar”, disse Pina, do Bradesco. Outros pontos destacados pela executiva foram transparência e educação financeira. “Temos que explicar claramente o que fazemos com os dados, com informações precisas sobre as análises. As instituições também têm o dever de explicar à sociedade como escapar de fraudes, com uma estratégia de educação contínua”, acrescentou.
“Educação é o caminho para um arcabouço seguro”, disse Nardoni, da B3. “A tecnologia e a criação de produtos vão mudar muito nos próximos anos. Mas comunicação e segurança vão continuar no eixo da agenda daqui a cinco anos”, anteviu.
Cristina Pina disse ainda que a customização, com base em análises de contexto e oportunidades de criação de conveniências, abre espaço para novas formas de pagamentos invisíveis.
“Interoperabilidade é a palavra-chave para desenvolvimento do mercado”, enfatizou Nardoni. “Não haverá uma tecnologia usada por todos. Com padrões, podemos pensar em redes de pagamento globalizadas”, disse.