As redes comunitárias de internet surgiram como uma alternativa para promover a inclusão digital em regiões de povos tradicionais ou distantes de grandes centros, com pouca oferta de infraestrutura e serviços de internet. Mas qual é o perfil delas?
É justamente o que o Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) e o Núcleo de Informação e Coordenação (NIC.br) visaram responder com um levantamento inédito chamado “Redes comunitárias de Internet no Brasil: experiências de implantação e desafios para a inclusão digital”. Segundo os pesquisadores, o documento detecta o estágio de desenvolvimento dessas redes, compreendendo os seus modos de operação e seus efeitos nos territórios em que atuam.
Onde estão as redes comunitárias
A maioria (83%) das redes comunitárias se encontram em localidades remotas e que apresentam maior vulnerabilidade:
- 40% delas estão em quilombos ou territórios quilombolas,
- 33% em aldeias ou territórios indígenas
- 23% em áreas ribeirinhas
Segundo o estudo, os principais beneficiários das redes comunitárias são os moradores de entornos urbanos (58%). As redes também mencionaram visitantes daquelas áreas, associações (43%), além de outras instituições como escolas e igrejas (35%) e comerciantes locais (25%).
Quase todas (93%) as redes comunitárias se declaram como “organizações sem fins lucrativos” e um quarto delas (23%) afirmaram depender de um investimento médio mensal de mais de R$ 1 mil para se manterem ativas. Outras 38% disseram ter um custo de até R$ 1 mil.
Para financiá-las, 38% das redes comunitárias de internet investigadas se valem de doações voluntárias de pessoas da própria comunidade, enquanto outras 38% contam com o financiamento de organizações não governamentais. Em 28% delas são cobradas mensalidades ou anuidades dos usuários.
Quem são os gestores de redes comunitárias de internet
O perfil dos gestores dessas redes reflete a diversidade da comunidade, sendo 55% deles pretos ou pardos e 20% indígenas (neste último caso, a representatividade é bem superior à média da população nacional).
Já em relação à escolaridade, 40% deles têm ensino superior e 33% têm pós-graduação. Além disso, em 45% das redes comunitárias, os beneficiários participam das decisões sobre seu funcionamento e, em 35%, as principais questões são decididas por um conselho ou grupo deliberativo.
Quando questionados sobre quão seguros estavam de que a sua rede estaria funcionando nos próximos 12 meses, 53% dos entrevistados afirmam estar muito seguros ou seguros de que a rede continuaria operando nos próximos 12 meses. Outros 18% declaram estar nem seguros e nem inseguros disso, enquanto 23% declaram estar pouco ou nada seguros.
Perfil dos usuários
Também foram analisados os hábitos dos usuários das redes comunitárias que, são mais utilizadas para promover eventos, festividades e atividades culturais (50%) e mobilizar os membros das comunidades sobre campanhas e temas de interesse (50%). Os usuários também usam a rede para atividades mais cotidianas, como ver notícias (50%), estudar (48%), se informar sobre questões da comunidade ou do território (45%), trabalhar (45%), compartilhar conteúdo (40%), acessar redes sociais (40%) e assistir a vídeos (40%).
Os principais serviços oferecidos são espaços para gravar, compartilhar arquivos e documentos online (28%), disponibilizar intranet (23%) e oferecer mural de avisos da comunidade pela internet (18%). Serviços de rádio comunitária própria (13%) e TV comunitária própria (8%) foram mencionados em menores proporções.
Quanto à tecnologia de conexão, 18% usavam rádio, 18% satélite e 13% fibra óptica.
Metodologia do estudo
O levantamento mapeou 63 redes comunitárias em todas as regiões do Brasil. Foram entrevistados gestores de 40 redes comunitárias entre 25 de novembro de 2021 e 10 de março de 2022. No momento da coleta, 24 (60%) das redes comunitárias ouvidas estavam ativas, 14 (35%) estavam paralisadas momentaneamente ou em implementação e duas (5%) delas haviam sido encerradas definitivamente.
A publicação também traz os resultados da etapa qualitativa da pesquisa, na qual foram ouvidos atores estratégicos que atuam com redes comunitárias em diferentes segmentos (governo, mercado e sociedade civil), além daqueles com experiência de estudo e trabalho com a temática no país. Ao todo, foram realizadas 19 entrevistas em profundidade.