Os mundos físico e digital operando juntos, por meio de tecnologias disruptivas e com foco em UX (User Experience), o “phygital” (no original em inglês), foi tema de fundo do painel “Convergência figital na televisão: IA, 5G e computação espacial reinventando a produção, distribuição e a experiência do telespectador”, que aconteceu em 7 de agosto, durante a Set Expo 2023. No debate, representantes da Claro, Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), Grupo Globo e um convidado internacional da empresa francesa de equipamentos de transmissão ATEME exploraram temas do presente e do futuro do setor.
Apresentado como uma continuidade do painel de 2022, que se concentrou no impacto do 5G na indústria da mídia e entretenimento, o encontro deste ano foi além e olhou para o 5.5G e o 6G, e passou pelo IA, RA (Realidade Aumentada), RV (Realidade Virtual) e computação espacial a partir da premissa do universo “phygital”, que no painel foi composto pelos mundos físico e digital, mas também transborda para o social.
Segundo os especialistas, é preciso entender a evolução e o momento do 5G. “Trabalhamos desde 2016 com um ‘pré’ 5G para compreender como a rede opera e até onde ela poderia atingir, e agora não é diferente. Nossas experiências foram importantes para chegarmos ao momento atual e para projetar o futuro com o 5.5G e o 6G”, argumentou Carlos Alberto S. Camardella, Consultor de Engenharia de Telecomunicações da Claro.
Entre os cases que ele citou estão a primeira transmissão pública com 5G Broadcast com quatro câmeras exclusivas, na quadra do Rio Open 2023 e, antes ainda, a transmissão por drone e com câmeras 5G no carro e na pista de uma prova da Stock Car, no ano passado. Ambos foram projetos que utilizaram as chamadas mochilinks, unidades móveis e “pessoais”, operando com 5G em uma Network Slicing.
Esse pioneirismo também gerou testes durante o Carnaval de São Paulo em 2022, com uma rede exclusiva 5G. “Além disso, o Allianz Park (Palmeiras) é o primeiro estádio 5G do país com infraestrutura da Claro. Nosso foco é em oferecer um ambiente o mais virtualizado possível e uma experiência imersiva aos usuários, bem como entregar aos produtores de conteúdo flexibilidade, com orquestração de alto nível e silos de dados”, explica Camardella.
Essa expertise gerou ainda um desdobramento, com a rede privativa 5G no Big Brother 2023, da Rede Globo, em duas instalações, na casa e no “provódromo” (local das provas), o que levou à descoberta de um problema da rede: a baixa fatia de banda de uplink no release 17, com a segmentação de 76% para downlink, e 24% para uplink.
Esse problema, no entanto, foi revisto no release 18, e pode ajudar a aderência do setor de mídia e entretenimento com o 5G chegando a 1 Giga no uplink. Isso fará com que a camada física da TV digital trabalhe com recursos de rádio dedicados, trazendo a perspectiva de utilização de satélites geoestacionários e mesmo os de baixa órbita, estes últimos operando com 3G e 4G.
Novos mundos
E, claro, como demonstraram os especialistas, o 5.5G e o 6G são uma nova quebra de paradigmas. Com velocidades ainda maiores que os seus irmãos mais novos – saltando para 1 terabyte contra as velocidades de 1 Gbps (4G) e 10 Gbps (5G) -, o 6G vai ampliar as possibilidades de IA, Machine Learning e Deep Learning, RA e RV. Teremos, assim, a chamada “Internet dos Sentidos”, que pode ampliar, e muito, a experiência dos usuários/espectadores no mundo da mídia e do entretenimento.
“Vejo muitas possibilidades, especialmente em transmissões esportivas, visando o engajamento e o incremento da experiência dos fãs em estádios e em ambientes remotos. Isso vai envolver as gerações Z e Millenial, que hoje têm outros interesses que não os da mídia tradicional”, projeta Williams Tovar, 5G Media Streaming Solutions Director na ATEME.
Ele cita como exemplo estar em um estádio e, ao mesmo tempo, ter acesso a múltiplos ângulos de jogadas e informações e estatísticas em telas virtuais e em smartphones ou tablets, ou mesmo em óculos, como os recentemente lançados pela Apple. “Está bem fácil dizer que o 5G e suas evoluções vão transformar o business de empresas de conteúdo e mídia”, confirma Tovar.
Saindo da Europa para o Brasil, o Inatel, um polo importante de evolução da tecnologia das redes de telecomunicações e que fez a primeira transmissão 5G ainda em 2017, trouxe Arismar Cerqueira S. Jr., seu P&D e Engenheiro de Telecomunicações, para dar o seu testemunho. “Sabemos que o 5G é um “foguete”, ampliando a velocidade de comunicação e oferecendo aplicações críticas, além de soluções de longo alcance em áreas remotas”, contabiliza.
E Arismar complementa: “desenvolvemos no Inatel a tecnologia 5G com foco nas pessoas. E concordamos com a premissa sensorial do 6G, mas veremos isso em alguns anos, talvez 2030 apenas, quando teremos IA em todos os níveis e redes neurais e interespaciais”.
Enquanto a novidade não chega, a Globo vê no 5G oportunidades para inovações no futuro (e no presente) na transmissão de vídeo. A alta taxa de transferência e a baixa latência da tecnologia são exploradas para a melhoria dos serviços de jornalismo diário e eventos, como no Carnaval, no Rock in Rio e no BBB, por exemplo.
Agora e amanhã
O futuro trará o uso intensivo das mochilinks, transmissões de holografia e experiências do chamado Estúdio 4.0. “Chegamos nesse 4.0 na taxa de upload de vídeo de 80 Mbps com uma rede privada em Network Slicing e com um delay de poucos frames”, revela Uirá Moreno Rosário e Barros, Analista de Telecom – Estratégia e Tecnologia da Globo.
Isso também serviu de experiência no último BBB, com a criação de uma rede 5G específica para operar durante as gravações do programa. “Reduzimos os cabos e a quantidade de pessoas na equipe de gravação com algumas câmeras automatizadas, LPTVs. Tudo com extrema segurança, apenas os SIM Cards habilitados poderiam entrar na rede e no switch da área técnica, com um delay bem baixo”, relembra Barros.
Já no jornalismo externo diário, com baixa densidade de público, os mochilinks da Globo vão trabalhar com upload de vídeo de 8 a 10 Mbps no 5G, com a ideia de local não determinado operando em uma rede móvel pública e com um delay em dezenas de frames.
Nos eventos, os mochilinks estarão no meio de grandes presenças de público, operando com algo entre 10 e 15 Mbps, enquanto que, com o perfil de redes móveis slicing e privada, local pré-determinado, o delay será de poucas dezenas de frames. “Temos exemplos bem-sucedidos de eventos com o uso do 5G, como o Rock in Rio 22, operando em 3,5 Gigas em uma rede pública da TIM, e a posse do Presidente este ano, com 2,3 Gigas, também em uma rede pública”, enumera Barros.
Em resumo, o painel reafirmou o papel vital do 5G na transformação da indústria de mídia e entretenimento. E se o 5G está apenas começando a mostrar seu potencial, com o 6G vislumbramos um futuro repleto de interações mais inteligentes e imersivas. “Com o espaço tridimensional que estamos criando, teremos não apenas maneiras inovadoras de conexão, mas a geração de comunidades, e é lá que as interações e o consumo vão acontecer”, finalizou Fernando Gomes de Oliveira, CIO da Intellinet Conectividade Inteligente e Chief Growth Officer nos grupos Digilab e RoboYell e moderador do painel.