Em seu mais novo ebook – 24 anotações para 2024 – o cientista e professor Silvio Meira analisa perspectivas e cenários futuros, além de explorar tendências e desafios em tecnologia, negócios, política, pessoas e sociedade. Como ele mesmo diz, na introdução do material, a discussão dos temas não se limita temporalmente a 2024, mas analisa o que pode acontecer nas próximas décadas. O ebook também pode funcionar como uma sequência do balanço que ele fez no ano passado (23 anotações para 2023).
Entre os tópicos abordados, Meira discute computação ubíqua, realidade virtual, internet das coisas, veículos autônomos, robótica, manufatura aditiva, inteligência artificial, segurança cibernética, biotecnologia, mudanças climáticas, energia, saúde, educação, trabalho e economia. Todos eles foram agrupados em clusters temáticos que, segundo ele, “abordam, cada, uma faceta de mudança, tentando indicar aos leitores os desafios e oportunidades que nos aguardam em 2024 e depois”.
Lugar do Brasil no mundo
Dois dos tópicos mais interessantes da análise de Meira, que é professor emérito do Centro de Informática da UFPE e atualmente também professor associado da Escola de Direito do Rio de Janeiro da FGV, estão relacionados ao ‘Lugar do Brasil no Mundo’. São as duas últimas anotações do relatório (23 e 24), que permitem uma visão panorâmica antes de voltarmos aos outros temas analisados. Assim como acontece com as outras anotações, há uma descrição do grupo temático – nesse caso os tópicos 23 e 24 – e uma orientação (Como Ler) a respeito do cluster.
Para Meira, o Brasil entrou num ponto de inflexão demográfica, com um declínio do bônus demográfico (alto número de pessoas ativas em relação aos dependentes), sinalizando uma transição para um período de envelhecimento populacional intensificado.
Essa mudança vai levar a desafios como a pressão sobre sistemas sociais e transformações na dinâmica do mercado de trabalho, mas também trará oportunidades, como a possibilidade de o país capitalizar em ciência e tecnologia e focar em educação, capacitação e empreendedorismo. Outra perspectiva é o estímulo à economia criativa.
Inovação, Revolução ou Distopia
O cientista também pontua cenários possíveis – outra dinâmica presente em todas as 24 anotações propostas – que abordam uma possibilidade de Inovação, Revolução ou Distopia. No cenário de Inovação da anotação 23, Meira coloca o Brasil numa perspectiva de transformação produtiva sustentável, na qual recursos como Inteligência Artificial (IA), aliados à automação, podem compensar a redução da força de trabalho.
No cenário de revolução, o país passaria por uma adaptação sociodemográfica profunda, com reformas significativas, com a sociedade se reestruturando para aproveitar o potencial da população idosa, enquanto “assegura a transferência de conhecimento e a integração intergeracional”. Na previsão distópica, por sua vez, o Brasil cairia numa crise demográfica que levaria a outras crises.
Na última anotação do material, Meira analisa perspectivas e estratégias para o lugar que o Brasil pode ocupar no mundo. Ele destaca que o Brasil precisa transcender seus paradoxos históricos, como os gaps sociais e educacionais, para atingir um potencial pleno como país. Uma das possibilidades é passarmos a ser um líder global emergente (cenário de inovação), mas o caminho também pode ser de uma transformação socioeconômica profunda (cenário de revolução) ou ainda cair numa vala de estagnação e isolamento (cenário distópico).
Cenários para 2024
Voltando ao começo, as 24 anotações para 2024 estão divididas em sete grupos temáticos ou clusters. O sétimo deles envolve justamente o que se falou acima – com dois tópicos (23 e 24) analisando nosso lugar no mundo e apontando perspectivas e estratégias.
O mesmo modus operandi acontece em relação às outras 22 anotações. As quatro primeiras fazem parte do primeiro cluster, que discute Fundamentos da Era Figital. Já o segundo cluster (anotações 5 e 6) analisa a Economia do Conhecimento e Indústria da Transformação. As anotações de 7 a 11 tratam dos temas de Saúde e Tecnologia, enquanto as de 12 a 16 cobrem o tema Sustentabilidade e Novos Paradigmas Urbanos. O quinto cluster (anotações 17 e 18) está direcionado para Trabalho e Educação na Era Figital, enquanto o sexto cluster (19 a 22) envolve Política, (In)seguranças e Sociedade em Debate.
Como está bem estruturado em temas e com orientações de como o material deve ser lido, as anotações funcionam como um guia, que pode, inclusive, ser lido de forma independente pelos clusters indicados por Meira. A leitura completa, é claro, permite uma visão mais ampla, porém a discussão, como ele mesmo coloca, está aberta.