Imagine ter na sua casa um medidor de energia inteligente que diz, em tempo real, quais são os horários de pico de consumo no seu bairro e avisa que, se você desligar o ar condicionado em determinado horário, vai economizar até 3% na conta no final do mês. É o tipo de desempenho possível com uso de redes inteligentes, o chamado smart grid, uma tecnologia que começa a fazer parte da vida de cerca de 500 mil consumidores.
Um mapeamento do projeto Redes Inteligentes, financiado pela Agência Nacional de Energia Elétrica, identificou 9 iniciativas de cidades inteligentes investindo em smart grid desde 2012, em municípios de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná, Amazonas, Ceará e Pernambuco. Um dos pilotos acontece em Barueri, no estado de São Paulo.
O projeto da AES Eletropaulo começou a ser implantado em 2013, com previsão de término até 2019 e investimentos de cerca de R$ 75 milhões para beneficiar mais de 20 mil residências. A empresa desenvolveu um smart meter próprio, certificado pelo Inmetro. De acordo com a empresa, a parte do plano relacionada à rede elétrica foi concluída com cerca de 6.600 detectores de falta de energia e três mil sistemas de self healing. Para a comunicação com a central, a empresa utiliza a rede 3G de operadoras do mercado e comunicação híbrida por meio de Rádio Frequência Mesh (RF) ou com fio pela própria rede elétrica (PLC).
No Paraná, a Copel está instalando neste ano cinco mil medidores inteligentes no município de Ipiranga, sem custos para os clientes. Neste caso, o modelo a ser instalado é da Landis+Gyr, empresa suíça que ganhou a licitação para o projeto. A tecnologia é a mesma usada em países como Canadá, Estados Unidos e Japão. No ano que vem a Copel planeja começar a troca em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, com 120 mil unidades consumidoras.
Para os grandes consumidores, recentemente a CPFL substituiu 24.500 medidores eletrônicos convencionais de grandes clientes por smart meters. Estes clientes passaram a ter seus dados de medição coletados remotamente por meio de uma rede própria de telecomunicações implementada pela empresa, usando a tecnologia RF Mesh (rede de rádio frequência).
Redução de perdas
Um dos impactos positivos do uso de smart grid é a redução de perdas, principalmente as comerciais. Uma parte considerável do total de energia produzida no Brasil é dissipada no processo de distribuição, algo como 15%. As perdas técnicas são reduzidas pelas concessionárias com troca de equipamentos e uso de materiais mais eficientes. Nisso, as empresas já estão bastante avançadas, de acordo com o gerente de Desenvolvimento da Axxiom Soluções Tecnológicas, Luiz Carlos Duarte Pinto.
Na avaliação do especialista, é nas perdas comerciais que o uso de inteligência vai proporcionar os melhores resultados. “Várias concessionárias estão utilizando tecnologias inteligentes para reduzir as perdas comerciais. São ações para identificar ou dificultar as fraudes, fomentando as demais ações de investigação baseadas em informações de inteligência”, afirma Duarte Pinto. Estas perdas de faturamento, provocadas tanto por falhas de medição quanto por fraudes na rede, respondem por 5% do total de perdas da distribuição de energia. De acordo com o Instituto Acende Brasil, em 2015, elas representaram prejuízo de R$ 8 bilhões no país. O engenheiro da Axxiom diz que a tecnologia de medição inteligente (smart metering, no termo em inglês) está em um patamar de evolução adequado para a expansão no Brasil, com custos cada vez mais próximos dos medidores convencionais.
Nos grandes consumidores, onde a medição inteligente está mais consolidada, há bastante espaço para inovação em outras tecnologias. “A maioria dos grandes consumidores no Brasil tem soluções de smart metering, mas poucos têm iniciativas de self healing”, diz Duarte Pinto. Ele se refere aos disjuntores inteligentes, pequenos e robustos computadores – capazes de resistir a vibrações, temperaturas extremas e mau tempo – montados em postes de transmissão em pontos críticos da rede. Eles são capazes, por exemplo, de cortar a energia imediatamente se a linha na qual estão instalados sofrer uma falta, evitando danos maiores ou efeito cascata em outras partes da rede.
O ritmo dos investimentos, no entanto, é mais tímido do que o esperado em 2012, quando começaram a surgir as primeiras iniciativas. Na época, as estimativas eram de um mercado de smart grid chegaria a US$ 36 bilhões em uma década. As precisões foram revistas e, há dois anos, um estudo da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) calculou o e o mercado de smart grid em R$ 18 bilhões até 2025.
“O Brasil está investindo em ritmo menor que o planejado no início do boom de investimentos do mercado pós anos 2000”, afirma o gerente de Desenvolvimento da Axxiom Soluções Tecnológicas, Luiz Carlos Duarte Pinto. O especialista aponta a realidade econômica dos últimos anos forçou um ajuste no nível de investimento previsto para estas tecnologias. Mas faz sentido pensar que a extensão territorial do Brasil, para operadoras e fornecedores de tecnologia e conectividade, é um incentivo a mais para investir na inteligência digital a despeito dos desafios econômicos.