Imagine um paciente que reside em uma cidade de interior ou mesmo em outra região mais remota e necessita de acompanhamento de um médico especialista, disponível somente em grandes centros. Ou que tenha uma dúvida diagnóstica que dependa de uma segunda opinião médica, a qual exigirá agendamento (e espera) e deslocamento para uma nova consulta com médicos especialistas. Tais questões podem ser simplificadas com o uso de tecnologia.
A integração da tecnologia na vida cotidiana tem impactos significativos na qualidade de vida. Desde avanços na saúde digital até soluções inteligentes para o lar, a tecnologia desempenha um papel crucial ao facilitar praticidades, promover a saúde e melhorar a eficiência, contribuindo assim para uma qualidade de vida aprimorada.
“Um dos grandes benefícios da tecnologia, na área de saúde, é a ampliação do acesso”, ressaltou Marcelo Ruiz, Head de Soluções Verticais em Saúde Digital da Embratel.
Segundo ele, a telemedicina é apenas uma das tecnologias que contribuem para a melhoria da saúde e da qualidade de vida. “Existem várias outras soluções, desde gestão hospitalar até as unidades de terapia intensivas (UTI) remotas, e que acompanham toda a jornada do paciente”, afirmou.
Acompanhe os principais trechos da entrevista concedida por Marcelo Ruiz ao Próximo Nível.
Como é a regulamentação da saúde digital (telemedicina) no Brasil?
A telemedicina foi aprovada por Lei Federal (13.989 de 15 de abril), mas está restrita ao tempo de duração da pandemia. Ou seja, quando oficialmente o fim da pandemia for decretado, a legislação perderá a validade.
Haverá muitas discussões sobre este tema. A cidade de São Paulo, por exemplo, decretou a Lei nº 17.718, de 23 de novembro, que define de forma permanente a prática da telemedicina na rede do SUS no município, nas modalidades de telemonitoramento, teleorientação, teletriagem e teleinterconsulta. A partir desta iniciativa, creio que outras cidades também devem estabelecer, por meio de leis municipais, as regras para a prática da Telemedicina. Porém, penso que uma regulamentação federal, de abrangência nacional, seria mais eficiente e daria mais segurança jurídica para médicos, instituições e pacientes.
É inegável que a telemedicina é fundamental para o sistema de saúde e para a população e traz muitos benefícios. Um deles é o eu que chamo de “democratização da saúde”. Apesar do número de médicos no Brasil ter dobrado desde 2000, e hoje existirem 550 mil médicos, há uma desigualdade na distribuição geográfica, pois eles estão concentrados em capitais e grandes centros. Enquanto nas 27 capitais a média é de 5,65 médicos por mil habitantes, nas cidades do interior é de 1,49, de acordo com dados do Conselho Federal de Medicina. Fica evidente a dificuldade de acesso aos médicos na maior parte do Brasil e isto pode ser solucionado pela teleconsulta. Além disso, com a adoção da telemedicina de forma massiva e a facilidade de acesso aos profissionais de saúde e aos programas de promoção à saúde, será possível atuar de forma preventiva, buscando melhor qualidade de vida e também reduzindo custos em todo o setor.
São apenas alguns exemplos do uso da telemedicina, assim como de emprego de tecnologia na saúde. Creio que o futuro nos reserva um mundo melhor e mais saudável.
O que é interoperabilidade na saúde digital e como ela beneficia o paciente?
A interoperabilidade é uma ferramenta importante para garantir que todas as informações do paciente fiquem centralizadas em um repositório de dados clínicos e possam ser acessadas por todos os agentes dos serviços de saúde.
A troca de dados entre diferentes sistemas e pontos de atenção é um desafio para as instituições, que pode ser solucionado com o uso da tecnologia de interoperabilidade. Utilizar APIs para conexão e troca de informações entre os sistemas é custoso, difícil de gerenciar e apenas uma das camadas da interoperabilidade que é a conexão. Além desta, existe a camada estrutural que define o formato, a sintaxe e a organização da troca de dados, a camada semântica, com modelos de codificação dos dados e a camada organizacional que inclui a governança. Somente com todas estas tratativas será possível permitir o consentimento compartilhado, confiança, processos e fluxos de trabalho integrados.
Somente com a desfragmentação do sistema, mantendo um repositório de dados clínicos unificado com todas as informações dos pacientes será possível proporcionar resultados mais significativos no desfecho clínico do paciente, melhorar a eficiência operacional, reduzir desperdícios, reduzir custos, além de levar as informações de saúde para o próprio paciente. Com isso, espero que as pessoas se tornem os agentes do cuidado de sua própria saúde.
Poderia explicar melhor o que é a jornada do paciente?
A jornada é o caminho percorrido pelo paciente em todos os pontos de atenção e necessários para o cuidado, desde a atenção primária, secundária e terciária, a consulta médica, a realização de exames, o encaminhamento, internação, cirurgia, tratamento e reabilitação, até o desfecho clínico.
Com o uso da tecnologia, todas as informações clínicas do paciente, e que formam o registro eletrônico de saúde (RES), ficam unificadas e, desta forma, provêm mais subsídios para a tomada de decisão da equipe médica, o que se traduz em melhor prognóstico.
É com a continuidade ao cuidado, ou seja, a partir de uma avaliação profunda do histórico do paciente, de suas condições de saúde, histórico familiar, diagnósticos e tratamentos realizados anteriormente e sua evolução, que a equipe médica poderá ser mais assertiva buscando melhor desfecho.
Além disso, com os dados dos pacientes centralizados, as instituições conseguem identificar a área de atuação, investir em medicina preventiva e preditiva e até oferecer serviços direcionados de promoção, como orientação nutricional, atividade física, acompanhamento de pacientes crônicos, de gestantes e direcionados à realidade de seus pacientes, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida.
Mas a tecnologia não substitui o olhar do médico…
Claro que não! Além de facilitar o acesso, ela também contribui para o apoio à decisão clínica. Se voltarmos para o passado, os médicos tinham a anamnese e exame físico como fonte principal de informações, porque na década de 70, por exemplo, existiam poucos recursos, eram poucos os equipamentos de imagem, os exames laboratoriais eram muito menos desenvolvidos. Isso foi evoluindo com o avanço da tecnologia e uma gama enorme de equipamentos e de exames que foram surgindo e, consequentemente, de informações disponíveis que hoje são fundamentais para a diagnóstico. O próximo passo desta evolução é a inteligência artificial e o aprendizado de máquina, que trarão ainda mais suporte ao profissional de saúde, pois a decisão clínica será sempre de uma pessoa e nunca de uma máquina.
Quais são as soluções da Embratel para este mercado?
Quando falamos em automatização ou informatização para outros segmentos, como negócios de varejo ou de áreas financeiras, as pessoas tendem a compreender com maior facilidade.
Mas no segmento de saúde é diferente. É preciso conhecimento na área assistencial. É um cenário no qual a gente lida com vidas e, muitas vezes, em um momento de carência de atenção e acolhimento. É um ambiente muito regulado, com padrões, legislações e protocolos bem estabelecidos, e isso nos exigiu ter uma equipe capacitada e qualificada e com entendimento do negócio, para que pudéssemos atender o nosso cliente com a responsabilidade, qualidade e a eficiência esperada.
Quero dizer com isso que é fundamental esclarecer que as soluções da Embratel estão alinhadas às necessidades e às normas do mercado. Temos um portfólio de serviços que inclui soluções para gestão hospitalar, teleconsulta, teleinterconsulta, interoperabilidade, tele UTI (uma UTI monitorada à distância) e consultoria para avaliação de infraestrutura hospitalar. Também atendemos demandas de nossos clientes com soluções customizadas, realizando o trabalho de integração de tecnologias para necessidades específicas. Temos parceiros, como instituições de saúde renomadas e outros reconhecidos internacionalmente, que nos permitem integrar tecnologia com serviços médicos, como, por exemplo, o corpo clínico para telemedicina. Nos posicionamos no setor desta forma, como um integrador de soluções Health IT.
Há outras empresas que podem se beneficiar da tecnologia?
Sim: empresas de qualquer área são beneficiadas. As soluções são úteis, por exemplo, para reduzir custos corporativos. Hoje, o custo de um plano de saúde, para uma empresa, só fica atrás da folha de pagamento. E não estamos só falando de absenteísmo, seja por doença, pela necessidade de ausência para consultas, internações e exames ou da melhora da produtividade e performance dos profissionais.
Os planos de saúde podem se tornar mais caros conforme o aumento da sinistralidade. Então, a medicina preventiva tem um papel fundamental nesse aspecto também. Quanto melhor a saúde dos colaboradores, menor a despesa da organização nessa área.
Hoje, os custos médicos são muito elevados e, posso estar sendo pessimista quando digo que haverá um momento em que as pessoas não conseguirão mais pagar pelos serviços médicos ou as empresas pelos planos de saúde. O modelo mais sustentável será o de promoção e prevenção. Novos modelos vêm sendo discutidos para sanar esta questão, e o principal é a cobrança por performance, ou seja, por desfecho clínico, ao invés do modelo atual de cobrança por serviço. Quanto mais utilizamos os serviços de saúde mais as instituições se beneficiam, independente do desfecho do paciente. Neste caso o sistema de saúde busca tratar a doença. A adoção de um modelo de eficiência com equipes multidisciplinares baseado em melhor desfecho será benéfica tanto para as instituições quanto para o paciente, viabilizando o sistema e tratando da saúde.
Para as empresas que contratam planos de saúde das operadoras e seguradoras para seus colaboradores, nós ofertamos o serviço de Gestão de Saúde Corporativa, onde unimos tecnologia para agregar dados de diversos setores do RH. A partir dessas informações consolidadas, criam-se diversas visões para que a nossa equipe médica especializada em gestão de saúde corporativa aplique o seu conhecimento e implemente ações para obter maior eficiência na utilização do plano e dos recursos, reduzindo a sinistralidade e, consequentemente, os custos do plano de saúde.
E na área de saúde pública, quais as soluções oferecidas?
A saúde pública precisa evoluir e ter a mesma tecnologia empregada na rede privada. O SUS é o maior sistema público de saúde com cobertura universal do mundo, com aproximadamente 77% da população nacional sendo usuária. São 160 milhões de pessoas exclusivamente dependentes. Para se ter uma ideia da defasagem entre o sistema de saúde público e privado, ambos investem praticamente a mesma quantidade de recursos financeiros, porém, a saúde suplementar representa apenas 23% da população. Isso tem acarretado numa defasagem do sistema público e o primeiro desafio a ser superado é a informatização, que tem sido muito estimulada pelo governo federal com programas como o Informatiza APS.
Atuamos nesse segmento com infraestrutura de telecomunicações, cloud e serviços profissionais de TI, assim como uma consultoria especializada em infraestrutura hospitalar, que avalia a maturidade da instituição e suas necessidades, e criamos um plano para mitigar possíveis riscos tanto para a unidade quanto para o paciente.
O 5G poderá habilitar novas tecnologias?
O 5G será uma grande revolução e irá mudar a forma como vivemos hoje. Dispositivos médicos conectados, a internet das coisas médicas (IoMT) e dispositivos vestíveis conectados e transmitindo informações em tempo real, aliados com inteligência artificial e aprendizado de máquina. Isso, além de monitorar a nossa condição de saúde, poderá, com modelos preditivos, apontar riscos previamente, permitindo que a equipe médica atue de forma preventiva. Toda essa quantidade de dados precisará de uma plataforma capaz de capturá-los, tratá-los e modelá-los para que as informações se transformem em conhecimento.
Aproximaremos ainda mais as pessoas e a medicina será muito mais remota com o 5G, que aumenta a capacidade de transmissão de dados em até 50 vezes, além de ter latência até 30 vezes menor. Enfim, a medicina à distância conectará toda a população aos serviços de saúde.
Poderemos utilizar cabines de teleconsulta, por exemplo, que geram imagens de ultra alta definição para pele e garganta. Também será possível conectar eletrocardiograma para coração, otoscópio para ouvidos, estetoscópio para pulmões, coração e abdômen, monitor de pressão, termômetro. Essas soluções já estão disponíveis hoje em dia, mas há muitas outras que surgirão para possibilitar uma gama muito maior de recursos, indo muito além dos smartphones que conectam os pacientes aos serviços de saúde especializados, onde quer que eles estejam.
Já estamos trilhando esse caminho. A Claro encerrará 2021 com pelo menos 1 milhão de aparelhos compatíveis com 5G. A empresa investiu R$ 1,7 bilhão na outorga das frequências e, conforme o cronograma da Anatel, até 31 de julho de 2022 todas as capitais brasileiras, incluindo o Distrito Federal, já estarão utilizando o 5G.