Além de inovações destacadas como telemedicina e, mesmo que ainda de forma experimental, cirurgias remotas, o setor de saúde é o que tem maior potencial de receber e gerar grandes benefícios a partir das tecnologias emergentes de conectividade, GenAI e robótica. Contudo, especialistas que vivem o dia a dia do setor, reunidos em um painel no Futurecom 2024, destacam a necessidade de avançar em estratégias e abordagens tecnológicas.
“Vemos MVPs (projetos de baixo risco) com IA que são pouco comunicados aos parceiros e fornecedores. Tem que ver o que já se tem de IA embarcada e as alternativas mais alinhadas”, mencionou Lilian Hoffmann, ex-CIO da Beneficiência Portuguesa e conselheira do Instituto Brasil Digital.
Apesar do tom crítico, Hoffmann vislumbra expectativas relevantes do ponto de vista dos usuários dos serviços. “O passo mais básico, do Prontuário Eletrônico, dá controle ao paciente e traz interoperabilidade ao atendimento (pela padronização dos dados e das prerrogativas de acesso). Agora, a GenAI (IA generativa) abre possibilidades de engajamento (com a geração de versões compreensíveis para os leigos)”, exemplifica.
Outro foco é a eficiência operacional. “Se olharmos só os números do setor de saúde suplementar, são evidentes os problemas de sustentabilidade. A resposta está em processos digitais”, resume.
Andrea Bocabello, diretora de estratégia, inovação e ESG do Grupo Fleury, destaca alguns casos de uso de aplicação de IA com ganhos imediatos. “O agendamento pode ser mais eficiente, inclusive com rotinas de triagem. A parte de logística e segurança da circulação de amostras pode ser otimizada. O combate a fraudes é crítico”, enumera. Evidentemente, a tecnologia também agrega eficiência à atividade-fim. “Funções de IA na ressonância reduzem o tempo de uso de máquina e aumentam a produtividade dos profissionais”, exemplifica.
A executiva informa que o Fleury explorou a IA há 10 anos na parte operacional. Neste momento, a organização tenta antecipar os desafios de compliance, em um setor fortemente regulado. “Enquanto regulação não vem, criamos um comitê e uma diretoria executiva que mapeia tudo que é feito com IA. Quando vier a regulação, está tudo mapeado”.
Robôs, ambientes e pessoas conectados à sua maneira
Márcia Ogawa, conselheira do Inova HC, observa que a Saúde tem casos de uso com requisitos diferentes de conectividade. “Precisamos de banda para transmissão de imagens em alta resolução e baixa latência para cirurgia remota. Também há demandas de qualidade de serviço nas pontas, como conexões 5G nas ambulâncias ou equipes em campo”, diz.
Além da disponibilidade de rede com a qualidade adequada, ela destaca a necessidade de padrões para colaboração. “Ainda há áreas com déficit de conectividade, que é fundamental, e temos ainda que vencer os desafios na camada de interoperabilidade”, adverte.
Anderson Rocha, pesquisador e professor de IA da Unicamp, enumera cinco tecnologias que definem a “revolução da convergência”. “Com a nanotecnologia, hoje se pode engolir um sensor. A robótica permite operações de alta precisão ou remotas. A biotecnologia traz a possibilidade de novos medicamentos e terapias. Temos também as inovações em IoT e conectividade, além de dados e IA. A medicina é impactada por essas cinco vertentes”, afirma.
“Quando se fala em robótica na saúde, todos pensam na mesa de cirurgia. Mas já construímos soluções para lidar com patógenos perigosos”, conta o professor.
“A robótica já é aplicada para automatizar a farmácia e as entregas de medicamentos”, acrescenta Cristiano Ribeiro, gerente de inovação e valor em Saúde do Hospital Sírio-Libanês.