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Os faróis de Barcelona: as tendências do MWC23

3 minutos de leitura

Fernando Paiva, da Mobile Time, divide as suas impressões sobre um dos maiores eventos de tecnologia do mundo



17/03/2023

Todo ano, em fevereiro, executivos de empresas de telecomunicações do mundo inteiro se reúnem em Barcelona para o maior evento desse setor, o Mobile World Congress. Trata-se de uma feira gigante, onde são apontadas as próximas tendências em tecnologia móvel na visão de operadoras, fabricantes e desenvolvedores de aplicações. Esse evento funciona como um farol, ajudando as empresas a navegar rumo ao futuro.

Na edição deste ano, quatro temas me chamaram mais a atenção: 6G; APIs de redes; convergência entre satélites e celulares; e redes privativas móveis.

6G

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As especificações para a sexta geração de telefonia celular ainda não foram definidas, mas as possibilidades estão sendo desenhadas e apareceram nos estandes e nas falas de vários especialistas presentes na feira. A expectativa é de que o 6G alcance faixas de frequência na casa de 1 THz e velocidades próximas a 1 Tbps, além de usar inteligência artificial de forma nativa para se autoconfigurar e ser mais eficiente no uso de energia. Mas a principal novidade do 6G será a capacidade da rede de “sentir”. 

Cada antena será como um radar, tornando possível captar gestos e movimentos das pessoas ao redor, além de possibilitar a localização tridimensional de objetos com precisão de centímetros. Fala-se que o 6G vai viabilizar aplicações de digital twins em tempo real, por exemplo. No estande da operadora japonesa NTT DoCoMo foram feitas demonstrações de possíveis aplicações futuras do 6G, como a transmissão do toque, através do uso de um anel conectado e de dispositivos que vibram para reproduzir o tato de outra pessoa. 

Outra aplicação era um bracelete conectado que, através de estímulos elétricos transmitidos pela rede, induz o usuário a realizar determinados movimentos com a mão para tocar uma música no piano.

APIs de redes

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Há muito tempo as operadoras falam sobre a possibilidade de abrirem suas redes para desenvolvedores através de APIs. Até então haviam acontecido experiências isoladas. Mas agora parece que essa tendência vai finalmente ganhar força graças a uma iniciativa liderada pela GSMA, a associação internacional que representa as operadoras. Através de um projeto batizado como Open Gateway, 21 teles estão desenvolvendo APIs padronizadas para acesso a recursos das redes de telecom, como localização, validação de número telefônico e garantia de banda. 

As primeiras oito APIs desse projeto foram apresentadas na abertura do MWC23. A ideia é que elas sejam uma nova fonte de receita para as operadoras, ao mesmo tempo em que vão fomentar a inovação.

Satélites e celulares

A convergência entre satélites e celulares foi outro tema quente do evento. Começam a surgir experiências de integração do 5G com as chamadas redes não terrestres (NTN, na sigla em inglês). Já havia uma integração entre as duas tecnologias, mas se limitava ao uso do satélite para backhaul de torres celulares instaladas em locais remotos, onde a fibra não chega. Agora estamos falando de uma conexão direta entre celulares e satélites de baixa órbita. Fabricantes de chipsets anunciaram recentemente a produção de modelos capazes de estabelecer essa comunicação direta. E foi visível o aumento de empresas de satélites presentes na feira. 

Redes privativas

Por fim, as redes privativas móveis também chamaram a atenção. Trata-se de uma nova fronteira a ser explorada por operadoras, fabricantes de equipamentos, hyperscalers e integradores. O tema foi destaque nos estandes de várias empresas e é visto como a grande oportunidade de monetização do 5G, pois representa uma nova fonte de receita, a ser gerada no segmento B2B, por meio de redes instaladas em fábricas, fazendas, portos, redes de eletricidade etc. 

Redes privativas móveis estão sendo montadas especialmente para cobertura outdoor, mas também em ambientes internos, para se livrar de fios e melhorar a movimentação de veículos guiados automaticamente (AGVs, na sigla em inglês). Nesses projetos, será fundamental o papel de integradores, que farão o elo entre os diversos fornecedores de hardware, software e conectividade.

Na prática, Barcelona traz sempre vários faróis, pois há muitos futuros possíveis. Às vezes, suas luzes se cruzam. Mas tão equivocado quanto tentar seguir todas ao mesmo tempo é escolher uma única como norte: em ambos os casos, você pode se perder pelo caminho. 

As quatro tendências que trouxe aqui foram aquelas que mais reluziram para mim, porém, havia outras muitas brilhando por lá também. Resta ver quais faróis permanecerão acesos e quais se apagarão ao longo dos próximos anos.

* Fernando Paiva é editor do Mobile Time e atua há 22 anos como jornalista de telecomunicações



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