Profundidade técnica já não é diferencial competitivo para os profissionais de tecnologia da informação e comunicação (TIC). Agora, mais do que essa condição sine qua non, eles precisam desenvolver novas habilidades e competências, ou, upskilling e reskilling, para cunharmos dois anglicismos do mercado corporativo.
Upskilling diz respeito ao aprendizado de novas competências, enquanto o reskilling diz respeito às requalificações. “A profundidade técnica de hoje está mais ligada à capacidade de aprendizado e a conseguir olhar para tecnologia de um jeito diferente, propositivo aos negócios”, disse Ricardo Guerra, CIO do Itaú Unibanco, durante painel de abertura do segundo dia da Febraban Tech 2023. O evento acontece nesta semana em São Paulo e este painel foi mediado por Marisa Reghini Ferreira Mattos, vice-presidente de Negócios Digitais e Tecnologia do Banco do Brasil.
O executivo contextualizou que, historicamente, os profissionais de tecnologia são aqueles acostumados a receber pedidos e devolver projetos. “Agora, precisamos ter empatia para entender problemas e construir soluções. Portanto, precisamos desenvolver novos skills (habilidades), que não são ensinados nas escolas de TI”.
A avaliação leva em conta os rápidos avanços tecnológicos dos últimos anos, com expoente na inteligência artificial generativa, que tem dominado as discussões sobre inovação e tecnologia neste ano. “Temos ouvido muito que a GenAI vai mudar a forma como pensamos em tecnologia, em desenvolvimento de softwares, por exemplo. Então, a tecnologia passa a ser algo mutável, e os profissionais do setor precisam o ser também”, disse.
Profissionais influenciadores
Luis Bittencourt, CIO do Santander Brasil e CEO da F1RST Digital Services, avaliou que os profissionais de tecnologia precisam ser vistos como habilitadores e influenciadores para as áreas de negócios das companhias. Por ter tanto o olhar de CEO quanto de líder de tecnologia (CIO), ele compartilha que a construção de identidade corporativa é um dos principais desafios. “E são as pessoas quem enfrentam os desafios. Nesta linha, precisamos entender que tecnologia e negócios são uma coisa só”, disse.
Edilson Reis, CIO e diretor executivo do Bradesco, resumiu que o líder de tecnologia precisa ter “papel provocativo”. “Precisamos ser influenciadores, no sentido de questionar como conseguimos convencer as áreas de negócios ao mostrar que, através de tecnologias, temos novas possibilidades”, disse.
Uma pesquisa interna no Bradesco questionou as demais áreas do banco sobre o que elas esperam da tecnologia. As respostas, segundo Reis, apontaram para agilidade e também para a proximidade com as áreas de negócios. “Hoje, temos orgulho de chegar a uma reunião e, graças às equipes multidisciplinares que criamos, não sabermos identificar, apenas no olhar, quem é de tecnologia, de negócios ou de experiência do cliente”, contou ele.
Desenvolvimento e equidade
O desenvolvimento de pessoas, na visão de Adriana Salgueiro, vice-presidente de Tecnologia da Informação e Digital da Caixa, anda junto com a equidade de gênero no setor de tecnologia. “Isto é um desafio. A participação feminina no mercado ainda é pequena, apesar de estar evoluindo”, disse.
Com dados da Brasscom, ela pontuou que a representatividade feminina entre os profissionais do setor foi de 39% em 2022, apesar de o país ter 51% de mulheres. “Mas estamos avançando. No último ano, 32,6 mil vagas de TI foram ocupadas por mulheres, representando 45% do total”, pontuou.
Nos cargos de liderança, a proporção é menor, sendo que 15% das vagas de CIOs são ocupadas por mulheres atualmente.”Há ausência de referências, para que as mulheres se enxerguem nessa posição e saibam que é possível. A questão do networking também é, ainda, mais tímida entre as mulheres, e isso tem papel fundamental nas posições de liderança. Precisamos evoluir nesse sentido e avalio que é uma luta coletiva, sendo que as organizações devem abrir cada vez mais espaços para tratar da diversidade, tanto de gênero como de outros grupos sub representados no setor de TIC”, disse.
Com a complexidade de quem lida com negócios e países diferentes, o BTG Pactual, segundo Christian Flemming, COO e CTO da empresa, enfrenta desafios semelhantes aos dos outros bancos citados nesta matéria, no que tange à tecnologia. Inovação, cibersegurança e a busca de talentos estão entre os principais deles. “Essa variedade torna um pouco mais complexa a tarefa de fazer com que a transformação digital alcance todos os pontos, e não apenas uma parte do negócio”, disse.
Segundo ele, há no BTG um esforço para criar sinergia entre as áreas, e a prova de sucesso seria a equalização tecnológica alcançada nas operações de varejo e atacado (terceiros). “A nossa linha de negócios bank as a service, por exemplo, utiliza a mesma tecnologia, com mesmo padrão para expandir a terceiros”, concluiu ele, mostrando como o desenvolvimento e aprimoramento de competências (Upskilling e reskilling) dos profissionais de TIC fazem a diferença.
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