A inteligência artificial (IA) mudou o cenário recente da tecnologia, modificando as mais diversas arquiteturas tecnológicas mundo afora. Seu uso em data centers também vem sendo discutido por especialistas. “Apesar de os Estados Unidos serem detentores de grande parte dos data centers globais, a tendência é de que o mercado brasileiro se aqueça em dois ou três anos”. A informação vem de Rodrigo Radaieski, diretor de Serviços da Ascenty, empresa de data centers com presença na América Latina.
Segundo ele, as empresas têm esse tempo para melhorar os serviços e trabalhar em soluções sustentáveis para manter as estruturas. “Precisamos nos preparar, utilizar cada vez mais a energia limpa para o resfriamento, verificar a viabilidade de todo o processamento de dados. Eu acredito que Brasil, Austrália e Índia serão os próximos grandes centros de data centers com IA, e a inovação será a virada de chave para este mercado”, apontou.
Paulo Venâncio, diretor de Soluções Digitais da Embratel, concorda que o Brasil tem potencial para se tornar um importante centro de processamento de IA mundial. Ele afirmou que lidar com o processamento de grande volume de dados e garantir que essa GPU receba as informações da maneira adequada e sem perdas no fluxo de processamento é o desafio diário da Embratel.
“O foco é a eficiência dos data centers em todos os sentidos, do processamento de dados à infraestrutura, muitas delas embarcadas. Temos um legado bastante grande do ponto de vista de infraestrutura. Trabalhamos muito o processo de adaptação e utilização dessa infraestrutura para transformar e fazer a evolução desses ambientes, visando exatamente a recepção de infraestrutura de processamento, workloads, e conjugando isso com toda a infraestrutura que temos hoje, de extrema eficiência e bastante robusta, não só no Brasil, mas também na América Latina”, explicou o especialista.
Foco nos negócios
Venâncio explicou que a Embratel mantém a arquitetura observando diversos aspectos, como de utilização e de evolução dos ambientes dos data centers. “Isso é determinante para visualizarmos o que vavmos implementar do ponto de vista de infraestrutura e aquilo que vamos fazer como negócio”, justificou.
Segundo ele, outro ponto determinante na empresa é o programa de eficiência energética, que já está em vigor há alguns anos. “Temos o programa de energia da Claro, que busca trabalhar com 100% de energia renovável, o que colabora também com a sustentabilidade. É um aspecto que conjuga com toda essa questão de eficiência, que para nós são palavras-chaves: eficiência, foco e direcionamento”, completou. Sobre inteligência artificial, ele destacou que a empresa utiliza na gestão e em todo o contexto de eficiência para monitoração e uso dos recursos.
Sustentabilidade e eficiência energética
Para Gustavo Moraes, presidente da Associação Brasileira de Data Center (ABDC), tudo ainda é muito novo. “Acredito que a grande diferença está na infraestrutura por trás da necessidade do processamento dos data centers, e isso é de uma maneira global”, afirmou.
Bruno Assaf, Country Director IA, Cloud, Cyberbackup e Datacenter da Dell ISG Brasil, apontou este momento como de inflexão, sendo que grandes benefícios podem ser extraídos da IA para a sociedade. “Inclusive, a parte ambiental e o desafio de processamento é uma das principais coisas que nós falamos enquanto empresa. É uma demanda muito grande de engenharia para que aquilo que nós colocamos dentro dos data centers esteja numa nuvem própria ou de outro player. Com a automação, temos a possibilidade de máxima eficiência”, disse.
Segundo ele, não basta só pensar em consumo elétrico, GPU e aquilo que naturalmente vem à cabeça quando se fala em IA. “O dado tem que chegar em altíssima velocidade na GPU, senão ela fica consumindo energia e não tem informações para processar. Com isso, há maior consumo de energia, mais GPU. Então, é essencial que haja uma engenharia conjunta, que vai do dado da rede até o processamento, e toda a interconexão, para que as informações possam ser processadas de forma eficiente”, concluiu o especialista da Dell.
Uso de energia por data centers com IA
Moraes apresentou uma pesquisa que revela o uso de energia global para manter data centers. “Hoje, o mundo usa mais ou menos 1% da energia para data centers e já existem estudos dizendo que chegaremos a mais de 10% de energia no mundo só para esse tipo de manutenção de data centers com uso de IA”, citou.
Wesley Barbosa, diretor comercial da Elea Digital Data Centers, apontou a necessidade do sistema em relação à eficiência. “Mas, antes disso, é preciso falar de energia. Com os GPUS funcionando 50% ou não, a gente precisa ter essa infraestrutura. Hoje, estamos falando de um data center para cloud exatamente igual, que utiliza entre 10 e 15 kW para o rack, e a gente tá falando de GPUS em ambientes acima de 100 kilowatts. Então essa questão de 10 vezes mais energia, sim é real, e ela traz uma quantidade de desafios para esse mercado. O Brasil é privilegiado pela matriz energética eficiente e renovável que tem”, apontou Barbosa.
De acordo com Paulo Venâncio, o Brasil e o mundo têm desafios grandiosos relacionados aos históricos problemas energéticos globais. “Apesar disso, o Brasil é um player que está preparado para absorver essa onda de infraestrutura em IA. A matriz energética brasileira deve colocar o país em um outro patamar”, explicou.
Ativação de servidores
Para Barbosa, ativar os servidores é o primeiro grande desafio enfrentado pelo setor. “Imagine o calor gerado que a gente tem que combater quando estamos falando de 100, 150 kilowatts para cada hack. Para combater esse calor, a forma convencional de insuflar o ar frio já não é suficiente. Então já começa a falar de liquid cooler e de outras tecnologias. Do ponto de vista de data centers de infraestrutura, estamos exatamente nesse momento de buscar a tecnologia que vai conseguir resfriar todo esse processamento. Aí sim podemos falar de data centers que vão ser capazes de trazer todo esse mundo de TI para processamento, e não só num determinado local. E tem também a parte de telecom. Depois vem um novo conceito que é Edge. E então vamos ter que começar a conversar sobre processamento descentralizado e processamento espelhado, para não causar gargalos”, completou o especialista.
Rodrigo Radaieski, da Ascenty, reafirmou o fato de os novos data centers de IA requerem capacidade e energia para o processamento. “O resfriamento é essencial para suportar as novas cargas. E a inovação é a palavra-chave aqui. Inovar para os novos momentos.
TS Data Center Cloud Summit
Os especialistas participaram do painel “Futuro do IA Data Center” durante o 1º TS Data Center Cloud Summit, realizado pelo Tele.Síntese.