Apesar da cobertura do 5G estar limitada a algumas cidades, o impacto da tecnologia vem sendo medido pelo setor financeiro. É o caso do Itaú Unibanco. De acordo com Augusto Nellesen, superintendente de TI da instituição, a licença de teste que a empresa utiliza mostrou um salto significativo: a taxa de transmissão de dados, por exemplo, foi multiplicada por cinco e viabilizou o uso de chamadas de vídeo de alta qualidade na interação com clientes.
E o banco ainda não utilizou o que espera dos recursos do 5G, inclusive com a redução ainda maior da latência. Os testes deverão pesar na adoção da tecnologia em seus mais de 6 mil pontos no país e na migração da rede cabeada para a mobilidade do 5G. Na ponta do processo, os produtos devem mudar de patamar, com a oferta de novos serviços ou aprimoramento dos atuais.
O ponto de vista de Nellesen foi dado no painel “O impacto do 5G nos meios eletrônicos de pagamento”, durante o Futurecom 2022, um dos maiores eventos de tecnologia, telecomunicações e inovação do Brasil, realizado entre 18 e 20 de outubro em São Paulo. O debate foi mediado por Antônio João, diretor executivo para o mercado financeiro da Embratel, que fez um retrospecto da evolução da mobilidade, colocando a quinta geração como um divisor de águas em relação às gerações precedentes de conexões móveis.
“A Anatel inovou e o leilão do 5G deixou de ser arrecadatório, como os anteriores, e incluiu uma série de obrigações que vão se reverter em benefícios para mais de 5,5 mil cidades. Isso também vai atingir outras 9 mil localidades que não são sede de municípios, além da cobertura ao longo de rodovias”, destacou.
Antônio João lembra ainda que, do 2G ao 4G, a tecnologia esteve mais voltada para o atendimento da pessoa física, cenário que muda com o 5G. “A pessoa física passa a ser mais um dos segmentos atendidos e o 5G amplia as aplicações para setores específicos”, argumenta.
5G e setor financeiro: compras de coisas para coisas
O executivo também confirma a ativação mais intensa de tecnologias inovadoras, como as redes definidas por softwares e a virtualização de funções de rede. Os recursos facilitam a contratação de serviços pelos usuários, sejam corporativos ou não.
“Isso nos traz formas diferentes de ver a infraestrutura, caso do network slicing – ou fatiamento de rede – que permite redes virtuais dentro do 5G para atender segmentos específicos, como o setor financeiro”, completa.
O executivo da Embratel aposta ainda na aceleração da “cloudificação”, ou seja, do uso mais intenso e inteligente da nuvem. Ele avalia que a migração total para esse ambiente virtualizado deve acontecer de cinco a oito anos. A maior velocidade na transmissão de dados e a menor latência são os fatores que permitem o maior engajamento dos clientes financeiros por meio do contato omnichannel, uma das tendências a ser acelerada no setor.
O 5G agrega ainda o pagamento de coisas para coisas, fortalecendo a Internet das Coisas como tecnologia chave. Na prática: quando o consumidor comprar um ar-condicionado, ele poderá contratar serviços como a troca de filtro, acionando essa instrução dentro da programação do equipamento. A decisão de compra, portanto, fica a cargo do aparelho, que faz o pedido quando necessário.
Para os céticos, a experiência real do Itaú Unibanco mostra que a tecnologia viabilizou mudanças na pandemia – mesmo com as redes limitadas. A instituição fez uma lição de casa focada e hoje, dois anos depois, tem condições de manter 60 mil colaboradores em home office todos os dias, caso opte por isso. E os cerca de 90 mil colaboradores totais foram mobilizados, de uma forma ou de outra, remotamente no período recente de restrições.
Melhor combate a fraudes
Claise Muller Rauber, diretora de Produtos, Segmentos e Canais Digitais do Banrisul, adianta que o banco estatal ainda não está testando o 5G, mas concorda que a transição já começou e é provável o cenário de clientes usando as redes atuais e experimentando em breve as funcionalidades do 5G. Ela acredita na expansão do atendimento multicanal e no maior uso de serviços, literalmente, na palma da mão, com os smartphones.
Fábio Levi, diretor de Produtos do Mercado Pago, é outro executivo que traz exemplos reais de como a tecnologia incentiva novos meios de pagamentos. Ele cita o PIX como destaque da competência do setor financeiro brasileiro. O executivo, no entanto, lembra que a aplicação do 5G deve começar pelas áreas centrais, mas espera que a sua expansão aconteça mais rápido, favorecendo os lojistas que usam as máquinas de pagamento e que hoje dependem mais de uma rede Wi-Fi para manter a conectividade do que as redes de telefonia móvel.
Já para Marcelo Haddad, head de produtos do Neon Bank, a missão do 5G é ser um redutor de desigualdade. O banco atende um público formado principalmente por empreendedores individuais e pessoas físicas das classes C, D e E e lembra que, além da conectividade, o mercado precisa considerar questões como os tipos de aparelhos usados pelo público final. Celulares sem câmeras frontais, por exemplo, podem ser um impeditivo para as ações de autenticação que pedem fotos.
Por outro lado, a capacidade de cruzar tecnologias, inclusive as de geolocalização, em velocidades maiores, vai permitir a maior assertividade no combate a fraudes. É o caso da empresa que identifica em tempo real que seu cliente está no ponto A e não poderia estar usando o cartão de crédito presencialmente no ponto B. “Anteriormente as operadoras de telecomunicações estavam mais focadas em construir a infraestrutura. Agora, elas são habilitadoras da tecnologia”, conclui Antônio João, da Embratel.