cidades humanas Foto: Reprodução/ Connected Smart Cities via LinkedIn

Cidades inteligentes também podem (e devem) ser humanas

3 minutos de leitura

A busca por estratégias para transformar um município em uma cidade humana não deve desconsiderar o perfil de seus moradores



Por Rose Guidoni em 02/10/2024

As chamadas ‘cidades inteligentes’ adotam uma série de soluções para melhorar a vida de sua população. Exemplos disso são sistemas de iluminação inteligentes, que promovem maior segurança, melhorias na mobilidade, por meio de semáforos conectados ou câmeras que alertam para eventuais problemas, ou mesmo sistemas conectados de saúde, que indicam aos moradores os locais os lugares mais adequados para atendimento, em qualquer eventualidade. 

Estes são alguns casos que ilustram soluções implementadas pelas cidades inteligentes, cuja gestão tem como base a tecnologia e registros de tudo o que ocorre no ambiente urbano. Isso inclui desde características do trânsito (vias mais congestionadas, obras na pista e eventuais acidentes, por exemplo) até questões mais específicas, como lotação ou disponibilidade de atendimento em postos de saúde. 

Por meio da tecnologia, os serviços urbanos podem ser mais acessíveis aos cidadãos e, assim, contribuir para a melhoria da qualidade de vida. O tema foi alvo de debate durante o Connected Smart Cities 2024, realizado em setembro, evento que, para além de discutir soluções, reconheceu as cidades brasileiras consideradas “mais inteligentes”. 

Cidades inteligentes e humanas

cidades humanas

No painel de mesmo tema, os participantes destacaram a importância da “humanidade”, mesmo em locais onde a inteligência de dados predomina. “Como fazer a população entender o que é uma smart city e de que maneira fazer a governança, abraçando, também, a inovação?”, questionou Juliana Alvarenga, diretora de Inovação da Agência Maringá (PR) de Tecnologia e Inovação. 

Em sua avaliação, muitas vezes a população considera a proposta de inovação de uma cidade como uma imposição. “A inovação não é uma corrida de 100 metros, é uma maratona. Precisa ser construída, trabalhada, entendida e treinada”, ressaltou. 

Segundo Juliana, a população deve ser informada e precisa entender as estratégias adotadas para a transformação da cidade. “Para um município se tornar inteligente, é preciso tratar a base, educar as pessoas que fazem parte da cidade, para a compreensão das soluções”, afirmou. 

Wander Wilson Chaves, prefeito de Santa Rita do Sapucaí (MG), destacou que uma “cidade inteligente precisa de pessoas inteligentes”. Em sua avaliação, para tanto é preciso um modelo de educação para a cidade, para que a população “respire o conhecimento”.

“A cidade pode se tornar uma aceleradora de empreendimentos colaborativos, inovar, com criatividade, colocando esse compromisso na prática e na educação”, ressaltou. Segundo Chaves, o diferencial para isso é priorizar as pessoas e colocá-las no centro das estratégias urbanas.

População em foco 

Para ilustrar uma das diferentes formas de atender às demandas da população e, ao mesmo tempo, obter dados para definição de estratégias mais assertivas, Juliana trouxe, como exemplo, o case de restaurantes populares, localizados em bairros carentes de Maringá. 

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Foto: Gisele Barão/SEAB/Reprodução

“Muitas pessoas em bairros mais carentes não têm acesso à internet. Então, passamos a oferecer isso, em bairros populares, como um benefício. A ideia é fomentar o acesso à tecnologia e melhorar a qualidade de vida do cidadão”, disse. Ao mesmo tempo, a iniciativa traz dados sobre as necessidades e prioridades destes habitantes, contribuindo para que os órgãos públicos planejem estratégias para melhorar a vida dos cidadãos.

Acesso para todos

Marcos Alberto Martinelli, professor da Universidade Brasil, reforçou que, além de escutar e identificar as demandas da população, uma cidade inteligente precisa prover os dispositivos e serviços necessários para tanto. “A população precisa ter mais acesso à tecnologia e a conectividade precisa avançar, ficando disponível para todos”, ressaltou.

Em sua avaliação, o acesso à conectividade é um diferencial muito grande na vida das pessoas e em seus empreendimentos. “Além da educação formal, que demanda tecnologia e conectividade, pequenos empreendedores precisam de tecnologia para crescer”, afirmou.

Chaves, de Santa Rita do Sapucaí, citou a criação e o trabalho do Inatel, como exemplo de que as cidades devem investir – e, com isso, se diferenciar – com o propósito de fomentar a tecnologia e a educação. “Nosso município é a prova de que a saída para o país é a educação”, frisou. 

Na avaliação do prefeito, as cidades precisam adotar a cultura de inovação e criarem estratégias para investir em talentos, reforçando o desenvolvimento local. “A tecnologia é, também, uma forma de inclusão social”, disse Chaves.


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