A partir da experiência na implementação das tecnologias e processos relacionados ao Drex, uma criptomoeda lastreada pelo Banco Central do Brasil, as instituições começam agora a trabalhar em novos serviços, além das aplicações criadas pelo próprio regulador. A avaliação da primeira fase do Piloto Drex e as perspectivas de aplicação da tecnologia de registro distribuído, ou blockchain, em contratos inteligentes, liquidação de transações e outros serviços financeiros foram o eixo do workshop Os novos passos da evolução do Drex, no Febraban Tech 2024.
Denis Nakazawa, diretor da Accenture, destacou que, apesar das dificuldades, o sistema financeiro do Brasil pode ser mais uma vez referência de inovação tecnológica. “Com o Open Finance, em 30 meses fizemos o que levou 7 anos no Reino Unido. O PIX tem adesão comparada à da Índia em pagamentos instantâneos, mas expandimos muito mais rápido. É o mesmo ecossistema de bancos e reguladores que trabalha no Drex”, afirmou.
“Tratamos a agenda do Drex como prioridade. O projeto vai trazer o dinheiro para economia tokenizada”, disse Larissa Moreira, gerente de ativos digitais do Itaú. “Hoje tanto os ativos digitais quanto a tokenização dos ativos reais é um caminho sem volta”, constatou Vito Castanha, diretor sênior do Santander.
João Gianvecchio, diretor de estratégias e inovação do Banco BV, destacou que, além da agilidade e simplificação da gestão de transações, o dinheiro digital traz um nível inédito de interoperabilidade. Na prática, o token lastreado, como no caso do Drex, tem as características de universalidade de valor e validade semelhantes ao dinheiro tradicional.
Bruno Batavia, diretor de tecnologias emergentes da Valor Capital, salientou que muitas inovações vêm de redes abertas. “Isso vale para o bem e para o mal. A falta de regulação gera problemas, mas o desenvolvimento é muito rápido”, pondera. Ele mencionou que muitos projetos relacionados ao Drex usam tecnologia EVM (Ethereum Virtual Machine), que, como o próprio nome diz, vem de uma blockchain aberta. “Temos como incorporar muitas das inovações disponíveis em blockchains abertas. E muitos desses players virão”.
Solange Parisoto, consultora digital da Sicred, contou que a primeira fase do piloto envolveu uma agenda intensa da área de tecnologia. “Superamos a maioria dos desafios e ainda há questões de privacidade por se resolver” revelou. Ela reconheceu também que ainda há conhecimento insuficiente sobre o tema entre os próprios profissionais de finanças. Disse ainda que a indústria precisa se organizar para criar os casos de uso (o eixo da fase 2 do piloto).
Entre as principais dificuldades, Batavia menciona escala, segurança e privacidade.
Vito Castanha, do Santander, contou que os clientes têm como preocupação central a custódia dos ativos digitais. “Em segurança e privacidade, não se espera nada diferente do que garantimos hoje. O desafio é como ter desempenho e segurança no armazenamento das chaves, que são o ativo em si”, esclareceu.
“Hoje, a tokenização já é vista como solução para o custo do crédito e a inclusão financeira”, disse Moreira. Ela lembrou que o mercado de criptomoedas, como Bitcoin e Etherum, já totaliza cerca de US$ 1 trilhão em valores transacionados no país. “Os bancos e corretoras já operam compra e vendas de ativos tokenizados”, mencionou. Ela observou também que o uso de moeda virtual já faz parte da cultura de muitos jovens em ambientes online.