A transição energética será um processo de uso intensivo de metais, conforme aponta a reportagem da revista Brasil Energia. Sem elementos como lítio, cobre e terras raras, entre outros, não é possível avançar na adoção de fontes renováveis, como parques de energia eólica, tampouco ter um smartphone. Na mão inversa, a própria mineração precisou avançar no uso de soluções digitais, e um dos divisores de água nesse sentido foi a pandemia de Covid-19.
Segundo o relatório “A acelerada transformação da mineração”, produzido pela consultoria Accenture, a Covid-19 reforçou a necessidade de uma transformação digital completa na mineração e de maiores oportunidades para diversificar a força de trabalho, visando preparar melhor o setor para a escassez cíclica de competências.
Mineração digital amplia resultados financeiros
O documento lembra que antes da pandemia os drones já faziam a vigilância das minas e os caminhões autônomos transportavam o minério. A Covid-19, no entanto, pressionou as empresas a levarem a transformação digital mais além, desenvolvendo novas maneiras de ganhar eficiência em um momento em que menos trabalhadores podem trabalhar localmente. Por exemplo, novos centros de operação remota agora permitem que a equipe supervisione mais funções à distância.
O processo envolve, inclusive, mudanças de capital humano, pois algumas ocupações em campo poderão ser substituídas pelo monitoramento remoto. “Especialmente no Brasil, a implementação de minas autônomas e de Centros de Monitoramento de Operações Remotas ainda não é uma realidade em todas as mineradoras. Muitas empresas têm essas iniciativas em seus roadmaps de transformação, porém, serão concretizadas apenas no longo prazo”, destaca o relatório.
A publicação especializada Mining Digital Magazine resumiu várias das tendências tecnológicas que tem tomando conta do setor mineral, baseando-se em outro levantamento, desta vez realizado pela McKinsey e que identifica como a implantação de novas tecnologias pode aumentar o rendimento, ampliar a segurança e reduzir os custos da indústria mineral.
Segundo a consultoria, uma abordagem integrada e focada na execução pode ajudar as mineradoras a obter uma melhoria de 5% a 15% no EBITDA (Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização). Boa parte das inovações está diretamente ligada ao chamado TIC, sigla para soluções de telecomunicações e tecnologia da informação.
As duas primeiras tendências têm sido bastante divulgadas pela indústria mineral e são o uso de caminhões autônomos e do sensoriamento com base na Internet das Coisas (IoT). De acordo com a McKinsey, os veículos autônomos reduziram o uso de combustível entre 10% e 15%, melhorando assim o desempenho ambiental em 13% e tornando os locais e áreas locais menos perigosos.
Caminhões autônomos
De janeiro a maio de 2022, o número de caminhões autônomos em operação globalmente aumentou de 769 para 1.068, de acordo com a GlobalData. A Austrália tem o maior número de caminhões autônomos em operações, com 706 veículos espalhados em 25 minas, enquanto a Caterpillar e a Komatsu são os dois principais fornecedores de veículos autônomos, respondendo por 86,5% de participação de mercado.
Na área de sensores IoT, as pesquisas da McKinsey mostraram que o uso de sensores combinados com um repositório de dados centralizado e aprendizado de máquina avançado tem resultados concretos e aumentou a recuperação química do processo de extração de 10% a 15% em uma das minas avaliadas pela consultoria. Os sensores IoT fornecem dados em tempo real sobre localização, integridade do equipamento, vida útil restante e outros parâmetros úteis, que são atualizados no software de rastreamento para visualização de gerenciamento de qualquer lugar.
IoT e Machine learning
E não é só a operação que ganha com o uso de tecnologias inovadoras. As melhorias acontecem também nas atividades de manutenção preditiva de ativos, cuja abordagem é baseada na detecção de anomalias e que incorpora o agrupamento de dados de detecção e análise, com a intenção de prever a confiabilidade da máquina.
A coleta de dados de sensores de IoT ajuda as empresas de mineração a entender a condição de cada ativo em tempo real, ajudando a prever tempos de falha e a usar a manutenção baseada em condições para reduzir custos, aumentar a utilização e prolongar a vida útil dos equipamentos.
O aprendizado de máquina também pode ser aplicado no segmento e a Mining Digital Magazine cita o caso da mineradora que usou sensores e aprendizado de máquina para implementar a manutenção preditiva em sua frota. O modelo foi capaz de prever quando os componentes falhariam, permitindo um aumento de mais de 50% na vida útil dos principais componentes.
IA e previsibilidade na mineração digital
Mesmo a Inteligência Artificial (IA), que pode parecer distante de um ambiente árido como a mineração, tem sido uma tecnologia recorrente dessa indústria. No futuro próximo as previsões indicam que as empresas do setor deverão mudar sua operação no dia a dia, aposentando o uso de modelos empíricos nas tomadas de decisões e assumindo a AI como recurso.
Outra mudança é a transição de um planejamento de produção rígido e com orçamentos de longo prazo para outro cenário, com planejamento de horizonte curto de duas semanas e maior agilidade em toda a cadeia de valor. A McKinsey estima que, até 2035, a era da mineração digital será alcançada por meio da mineração autônoma, usando análise de dados e tecnologias como IA. Mas não se trata apenas de inovação e sim de negócios: as economias previstas poderão oscilar entre US$ 290 bilhões e US$ 390 bilhões anualmente para os produtores de matérias-primas minerais.