Quando o 5G chegou ao Brasil efetivamente, em 2021, os assuntos dominantes sobre a tecnologia eram as faixas de frequência a serem disponibilizadas, os casos de uso que justificassem a implementação e a monetização. Hoje, com avanços nas duas primeiras questões, mostrar como os negócios habilitados pelo 5G podem ser monetizados ainda é o “x da questão”.
O assunto foi debatido durante o seminário Mobile Privative Network, promovido pela Mobile Time em julho deste ano. Os especialistas presentes defenderam que o 5G é habilitador da economia digital e que os mercados profissionais, como indústria, cidades, e agronegócio, entre outros, são os primeiros e principais usuários do 5G, principalmente com adoção de redes privativas.
Redes privativas 5G: alicerce no B2B
“Quando começamos a explorar o 5G, tirando proveito dos aprendizados em nossos PoC em variados segmentos da indústria, focamos em duas frentes: interna e externa. A interna dizia respeito ao conceito, ao entendimento e educação das nossas equipes, e também estruturando nosso portfólio, roadmap e alianças, para oferta das soluções”, lembrou Alexandre Gomes, diretor de Marketing B2B da Embratel.
Na externa, acrescentou ele, estavam envolvidas as interações constantes com o mercado e o apoio aos clientes no entendimento da tecnologia e seus benefícios, assim como a adoção dela.
Com o leilão 5G, o lançamento de outros países, e a evolução da tecnologia, Gomes lembra que ficou mais clara a definição de que o 5G se viabilizaria primeiro nos mercados B2B, iniciando com a oferta de soluções de redes privativas e FWA (Fixed Wireless Access). Esta última, segundo ela, está mais associada às características regionais e ao momento de cada país.
Na Embratel, o movimento, desde então, foi transmitir aos clientes os benefícios dessas soluções, principalmente em espaços controlados, com metragens pré-definidas.
Segundo Gomes, a companhia se tornou capaz de apresentar projetos bem estruturados de redes privativas LTE|5G a partir dessa estruturação.
“Construímos um portfólio enxuto, mas completo. A solução é desenhada a partir das necessidades do cliente, quanto às suas aplicações (casos de uso), onde modelamos o perfil do projeto mediante à cobertura, cobertura com núcleo de rede ou cobertura e núcleo de rede completo. Isto tudo considerando a área pré-definida e o adensamento do ambiente”, explicou o executivo.
Com isso, ele conta que houve evolução para uma entrega qualitativa mais sofisticada, com previsões de níveis de acordo de serviço (SLA), maior segurança e sem concorrência com a rede pública, além das características funcionais inerentes ao 5G. “Tudo isto, em uma modelagem de opex ou capex, entre outras”, completou.
Alexandre Gomes reforçou que o 5G ajuda e aprimora o processo de transformação digital das empresas. No entanto, este processo de transformação demanda um grau de maturidade para iniciar a jornada. “Entenda a maturidade como objetivos e estratégia, além de capacitação e infraestrutura”, acrescentou.
‘Portanto, não se trata somente do porte da empresa. Existem estes fatores que apontam a propensão ou não de adoção e em qual momento. Entre eles – a maturidade dos recursos humanos; a maturidade digital e as aplicações que a empresa possui ou pretende adota; a infraestrutura que ela utiliza; a sua capacidade de investimentos e outros requisitos”, detalhou.
Para ele, os gestores das empresas sabem o que é necessário fazer em seu core business para serem bem-sucedidos. “O nosso papel é tornar possível e mais fácil para as Empresas alcançarem seus objetivos, através da aplicação de tais tecnologias/soluções”, completou.
5G foi estímulo da ABDI para a digitalização
Para Igor Calvet, presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), a competitividade da indústria e da economia nacional depende da digitalização dos negócios, e o 5G viabiliza isso. “A produtividade da indústria brasileira vem caindo drasticamente desde os anos 1980, quando mais de 35% do PIB era proveniente da indústria. Hoje, essa contribuição é de apenas 11%”, disse ele, ponderando que o nível de industrialização diminuiu em todo o mundo, mas no Brasil a queda foi mais acentuada no período.
Calvet lembrou também que o conceito de indústria 4.0 surgiu como um enfrentamento a essa mudança nas matrizes econômicas desde o início da década passada, mas que não se materializou na velocidade que se esperava, de fato, por falta de uma tecnologia habilitadora, que garantisse a conectividade necessária. “Aí surge o 5G, que é o grande habilitador da indústria 4.0, e isso estimulou a ABDI”, revelou.
Desde 2019, a agência discute o tema e calcula a possibilidade de ganhos de R$ 73 bilhões para o setor. “Percebemos também que isso se daria por meio das redes privativas, e começamos, junto com a Anatel, a fomentar aplicações não só nas indústrias, mas também em cidades e no agronegócio”.
O caso da WEG, que implementou, em parceria com a Embratel, tecnologias da indústria 4.0 na sua fábrica de Jaraguá do Sul (SC), no ano passado, foi citado por Calvet. Segundo ele, trata-se de uma aplicação de rede privativa 5G StandAlone importante, e que foi fruto desse trabalho da ABDI com o mercado. Ele também citou casos no agronegócio, com redes 5G que suportam aplicação de câmeras espectrográficas para testar o nível de açúcar na cana, ao mesmo tempo que suporta indicações sobre o ponto ótimo de colheita, gestão de frota e outras. “Portanto, temos casos de uso que demonstram eficiência e produtividade no campo e na indústria”, afirmou.
Para continuar estimulando a adoção de redes privativas no país, a ABDI e a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) lançaram um prêmio que selecionará os melhores projetos de redes privativas do Brasil no segundo semestre deste ano.
“Agora começamos com o 5G”
Para Vinicius Caram, superintendente de Outorga e Recursos à Prestação da Anatel, as experiências da Embratel e da ABDI mostram que “agora começamos [com o 5G]”.
Sobre as redes privativas 5G, ele comemorou o fato de já termos 120 estruturas implantadas, como detalha o Mapa do Ecossistema de Redes Celulares Privativas no Brasil 2023, da Mobile Time (baixe aqui). “Com a indústria, vamos monetizar e fomentar a implementação de muito mais. Afinal, eu não vejo crescimento econômico do Brasil sem a aposta nas redes privativas”, concluiu.