Enquanto os consumidores aguardam novidades como tela com imagens em até 8K (7680 x 4320 pixels), áudio em alta resolução, grade personalizada e recursos interativos, do outro lado da tela a TV 3.0 já implica grandes transformações na operação e no negócio das emissoras. A nuvem, as redes definidas por software e facilidades dos próprios protocolos da TV 3.0 representam rupturas com tecnologias e modelos comerciais que, de certa forma, se mantiveram na digitalização da televisão (TV 2.0).
“A única certeza é que a infraestrutura será diferente e veremos formas criativas de combinar opções de tecnologias e serviços”, disse Carolina Duca, gerente sênior de tecnologia da Globo, mediadora do painel TV 3.0 – qual novo conceito de infraestrutura vai viabilizar a TV do futuro, na SET Expo 2024. O evento acontece ao longo desta semana em São Paulo.
Ewerton Maciel, CTO da TV TEM, afiliada da Globo na região de Sorocaba e Jundiaí (SP), observou que o cenário de tecnologias e serviços tende a acelerar a transição à TV 3.0, se comparada à da TV Digital (2.0). “A grande diferença em relação a 2007 é que, naquele momento, eram necessários investimentos no on premise. Hoje, temos de lidar com entrantes no mercado, mudanças constantes no workflow e nos produtos. Ao mesmo tempo, temos provedores de nuvem consolidados. O trabalho agora é combinar a estrutura on premise com as opções as a service”, descreve.
Maciel destacou a escalabilidade e o baixo risco como vantagens do modelo as a service. “Há uma curva de aprendizado da TV 3.0. Hoje se pode começar com operações menores, entender a cadência do mercado e escalar”, disse. No entanto, além da contratação de infraestrutura sob demanda, o CTO também mencionou a contratação de serviços de mais alto nível. “Principalmente os fornecedores de aplicações falam muito em PaaS (plataforma como serviço). Pode sair mais caro que IaaS (infraestrutura), mas se elimina uma camada de ruído entre o ‘arquiteto e o pedreiro”, compara.
Em relação a outras modalidades de infraestrutura, o diretor da TV TEM citou tendências como a desagregação de serviços. “Na Europa, já há centros de distribuição compartilhados. É uma forma de aproveitar a escala da infraestrutura e principalmente das equipes”, exemplificou. “Há vários modelos disponíveis para infraestrutura de distribuição. O desafio é equalizar os projetos com todas essas visões, com foco na realidade operacional e nos custos. O que vai guiar as melhores decisões é saber entender o cliente”, resumiu.
Customização e ganho de escala na TV 3.0
Carolina Duca notou que as atuais opções para infraestrutura aproximam a abordagem das emissoras à das operadoras de telecomunicações. “A visão (de meios e serviços) era segregada e agora temos de olhar o todo”, disse.
Ela observou que a renovação da infraestrutura serve tanto para habilitar novos negócios quanto para atacar ineficiências a partir das atuais oportunidades tecnológicas. “A nossa infra de TV2.0 é estática; mandamos o sinal e as afiliadas retransmitem. O sinal é decodificado e transmitido em 123 instalações. Isso exige um capex (despesas de capitais) que torna difícil escalar. Agora, e se partíssemos para um core centralizado? Poderíamos receber o conteúdo da afiliada (que responde em média por 30% do tempo de transmissão) e entregar o sinal pronto e customizado pela rede. O core centraliza a codificação e o transporte. A torre só faz a modulação e transmissão. Assim (além dos ganhos econômicos), se teria uma integração natural de entrega por broadband ou broadcasting”, especula.
Bruno Tariant, vice-presidente para Américas na Enensys, também mencionou, entre os exemplos de casos internacionais, o uso de CDN (rede de distribuição de conteúdo) para continuidade da entrega em casos de falha da transmissão em broadcasting.
Atheer Sabti, arquiteto principal de soluções de vídeo de HPE, lembrou que os canais de TV 3.0 permitem configurar diversos serviços de broadcasting, como transmissões privadas, assim como se podem liberar partes do espectro para outros usos, inclusive de outras emissoras. O especialista constatou que, como em qualquer rede digital, serviços mais complexos e diversos tornam imperativa a virtualização e a orquestração automatizada da infraestrutura.
“O objetivo principal (na transição) é otimizar custos”, afirmou Nertan Azevedo, diretor comercial da Ateme. “O desenvolvimento de parcerias e novos modelos de negócio será um diferencial na TV3.0. Vai ser necessário um investimento inicial e não se pode esperar até oito anos pelo ROI, como era antes”, explicou.
Segundo ele, arquiteturas mais flexíveis, com infraestrutura gerenciada por software, criam o ambiente para buscar fontes de receita adicionais com os recursos disponíveis, como serviços privados ou compartilhamento com outros provedores de broadcasting.