O conceito ESG, que indica boas práticas sociais, ambientais e de governança, é cada vez mais relevante para o setor corporativo. Empresas que não colocam em prática tais fundamentos podem, por exemplo, ter sua imagem manchada perante consumidores e fornecedores, além de enfrentarem dificuldades com investimentos e parcerias.
O ESG, inclusive, já é determinante para avaliar os riscos das organizações e passou a integrar o Índice de Sustentabilidade Empresarial da Bolsa de Valores de São Paulo (B3). O setor de tecnologia, no Brasil, já está comprometido com as metas globais de descarbonização e tem adotado algumas estratégias para reduzir as emissões. Mas, o que a transformação digital tem a ver com isso?
Transformação digital acelera o ESG
Tanto o ESG quanto a transformação digital têm potencial para renovar as estratégias e operações corporativas. De um lado, a digitalização contribui para aumentar a produtividade, facilitar o acesso a dados e tornar as operações mais ágeis. De outro, o ESG muda a maneira como a empresa se relaciona com a comunidade interna e externa e com toda a sua cadeia de valor.
De acordo com o relatório Sinais de mudança e a pauta de riscos – Questões ambientais, sociais e de governança (ESG), da KPMG, vários aspectos da digitalização são essenciais para promover o ESG. Por exemplo, as ferramentas de cibersegurança, que protegem dados da empresa, de seus clientes e de fornecedores de possíveis ataques criminosos, contribuem para as boas práticas de governança.
Além disso, o estudo mostra outros impactos positivos da digitalização, tais como a adoção de ferramentas de automação, que otimizam o uso de recursos como energia elétrica e água, o melhor relacionamento com o consumidor, por meio de canais digitais que oferecem respostas mais rápidas, e até a maior transparência dos dados.
Internamente, nas empresas, a digitalização de processos permite que elevem sua produção sem desrespeitar as premissas do ESG. Para ilustrar, um estudo recente da Nokia e da GSMA Intelligence mostrou que os softwares de inteligência artificial são essenciais para reduzir a demanda por energia elétrica nas redes, mesmo com o aumento do tráfego de dados.
Nas cidades, por sua vez, as smart grids (redes inteligentes) revolucionam o consumo de energia. Tais redes possibilitam uma eficiência operacional maior da infraestrutura energética nos grandes centros urbanos, conectividade com outros serviços (transporte e telecomunicações, por exemplo), além da oferta racional de energia para os consumidores.
Digitalização em linha com o desenvolvimento sustentável
Um aspecto essencial da digitalização é o fato de que as ferramentas tecnológicas contribuem para ganhos de produtividade. Dentro do contexto dos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS), das Nações Unidas algumas demandas prioritárias são a garantia da segurança alimentar, a educação inclusiva e a gestão sustentável de sistemas de água e esgoto, entre outros.
Tudo isso pode se beneficiar do uso da tecnologia. A maior conectividade, aliada à Internet das Coisas (IoT), por exemplo, é essencial para melhorar a produtividade no agronegócio. Veículos autônomos, drones, armazéns com monitoramento de temperatura em tempo real e controle de pragas podem melhorar sensivelmente a produção, contribuindo para a segurança alimentar.
O mesmo acontece em relação à educação. Um exemplo disso foi o sistema que possibilitou que alunos de todo o país pudessem ter acesso às aulas online durante os períodos mais críticos da pandemia da Covid 19. Hoje, mesmo com o afrouxamento das medidas sanitárias, a solução ainda é vista como uma estratégia importante para melhorar o acesso aos conteúdos educacionais, ampliar as atividades escolares e minimizar a evasão.
Da mesma forma, sistemas inteligentes na área de saúde permitem o acesso mais amplo aos serviços e garantem melhor acompanhamento de problemas, além de estimular a medicina preventiva e preditiva. Neste caso, entram em cena tecnologias que habilitam a telemedicina, além do uso de dados e indicadores para o monitoramento de riscos.
A digitalização também facilita o acompanhamento do clima nas cidades, identificando poluição e riscos climáticos, além de fornecer dados para que análises preditivas possam ser feitas, viabilizando soluções mais ágeis.
ESG + D, de digital
Os dois conceitos estão tão relacionados que o termo ESGD já vem sendo utilizado por algumas pessoas.
“Esse movimento ESG + D já vem acontecendo no mercado e, até aqui, pelo menos no caso brasileiro, são as startups que estão alavancando o novo pensamento”, disse Tonico Novaes, CEO da Campus Party, em artigo publicado pelo Mercado & Consumo.
Segundo ele, a digitalização é essencial para combater problemas atuais, como as ameaças das fake news, deep fakes e outras armadilhas digitais. “O ser humano deve ser colocado no centro de tudo e a tecnologia deve servi-lo e não substituí-lo. Depois de dois séculos da Revolução Industrial, quando robôs passaram a substituir a força de trabalho, principalmente nas linhas de produção, estamos encarando a revolução digital, quando a robótica começa a dar passos largos por meio da inteligência artificial, machine learning, blockchain, entre outras tecnologias”, afirmou. O ESG, hoje, está cada vez mais ligado à transformação digital.