Em um dos maiores festivais de tecnologia e inovação da América Latina, o HackTown, a relação humana com a tecnologia se sobressai e, nesse sentido, o uso ético de ferramentas de Inteligência artificial, assim como sua relação com a cibersegurança, se tornam cada vez mais relevantes. Estas e outras temáticas foram discutidas ao longo dos quatro primeiros dias de agosto, em mais de 800 palestras, no evento realizado em Santa Rita do Sapucaí (MG).
Já na edição de 2023, o sócio e cofundador do Hack Town, Marcos David, adiantou, em entrevista ao Próximo Nível, que “para a sociedade avançar no tempo, as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) não são suficientes. Elas precisam andar ao lado do que a gente chama de ‘Tecnologia do Amor e da Colaboração (TAC)’”. A fala do executivo corrobora a visão do evento deste ano acerca do uso da tecnologia para atuar na transformação da cidade, uma vez que Hack significa transformar e Town significa cidade.
A partir dessa concepção, as mais de 300 startups e os participantes do HackTown 2024 se tornam agentes de transformação. A evolução se apresentou, também, no diálogo amadurecido acerca do uso da inteligência artificial.
Confira a seguir os principais assuntos relacionados à temática.
Cibersegurança e IA
Com a ampliação do uso de inteligência artificial nos diversos segmentos de uma empresa, cresce a preocupação com a segurança cibernética. E, como a aplicação da tecnologia nos negócios é inevitável, a questão se dá na maneira pela qual ela vai ser implementada. Se feita com segurança, a IA pode ser, inclusive, uma ferramenta para acelerar a detecção e o bloqueio de ataques mais sofisticados.
Caso contrário, a IA pode se tornar uma ameaça, com a materialização dos riscos que a tecnologia pode trazer, como à proteção de dados. Essas questões foram abordadas durante o painel “IA, ferramenta ou ameaça?”, que contou com a participação do diretor de segurança da informação de soluções digitais da Embratel, Paulo Martins, do Arquiteto de 6G, Antonio Marcos Alberti, e do coordenador do Centro de segurança cibernética do Inatel, Guilherme Aquino.
Na Casa Conectada Claro, a cibersegurança também foi tema do painel “O Novo Impulso da Resiliência Cibernética”, que teve a participação de Marcelo Fernandes, José Luiz Marques, Jonathan Amorim e Bruno Fagioli (respectivamente, executivos da Claro, Embratel, Embratel e Cisco).
Os especialistas avaliaram que, para que as empresas mantenham suas operações, é fundamental o investimento em resiliência cibernética. Para isso, discutiram uma série de medidas que ajudam a garantir a sobrevivência da organização, mesmo que ela seja atacada.
Veja, a seguir, os esforços citados.
- Adoção de frameworks já validados (NIST e ISO)
- Fortalecimento do controle de acesso
- Plano de respostas imediatas aos ataques cibernéticos.
- Investimento em hackers éticos e atenção a bugs
- Planejamento e estratégias (seguras) de migração para a nuvem
- Desenvolvimento de um plano de recuperação de desastres
- Evitar ameaças com inteligência
- Investir em operações eficazes do Centro de Operações de Segurança
- Ter sempre um processo de resposta à vulnerabilidade (VDP) ativo
- Adoção de uma comunicação eficaz em resposta a incidentes cibernéticos imediatamente
Saúde e bem-estar
A saúde também foi tema no HackTown 2024, com palestras voltadas para melhorias que a aplicação de tecnologias pode trazer ao setor. No painel “Transformação digital a serviço da experiência do paciente”, o radiologista Luiz Pecci Neto destacou o impacto da inteligência artificial no atendimento médico. Ele explicou que, enquanto o médico se concentra no paciente, a tecnologia é capaz de transcrever e analisar a consulta em segundo plano.
Nesse sentido, Neto considera que há ganhos tanto para o médico, que consegue otimizar e conferir uma qualidade maior ao atendimento, quanto para o paciente, uma vez que a abordagem se torna mais humanizada e personalizada.
Ainda que a tecnologia promova avanços na área da saúde, Neto explica que é necessário fazer um trabalho básico de letramento no setor, com a inclusão de campanhas educacionais, workshops e uso de redes sociais. Neste caso, mais uma vez, as ferramentas tecnológicas podem ser aliadas, com a utilização, por exemplo, de wearables e aplicativos de saúde pelos quais o paciente tem acesso aos seus dados de saúde, de forma visual e que facilita a compreensão.
Somado às palestras que tratavam da saúde, o HackTown e os diversos agentes do evento promoveram ações que visaram o bem-estar dos participantes. Em meio ao ritmo intenso de programação, foram oferecidas aulas voltadas para o equilíbrio físico e mental.
Entre as atividades estiveram yoga, meditações, quick massages e shows de gastronomia com degustação.
Na Casa Conectada Claro, por exemplo, os visitantes puderam assistir, na área de descanso, aos Jogos Olímpicos, além de participar dos happy hours com shows no palco Claro Música.
Sustentabilidade no HackTown 2024
A construção de um futuro equilibrado passa pela inserção da sustentabilidade nos modelos de negócios. Na palestra “Valoração Econômica da Sustentabilidade (VES): o reconhecimento econômico das Práticas ESG”, apresentada pela cientista ambiental Gabriela Azevedo, os participantes foram instruídos a pensar em como recompensar a sustentabilidade, para além do crédito de carbono. Isso porque, na visão da especialista, o compromisso ambiental e social é mais do que uma meta desejável, é uma prática lucrativa.
Assim como a palestrante ressaltou a capacidade de aliar renda à sustentabilidade, a startup Bio2Me se apresentou como case ao unir tecnologia à sustentabilidade. No painel, realizado no Espaço Panela Nestlé e denominado “Tecnologia a serviço da regeneração: o case da Bio2Me”, os especialistas da Bio2Me explicaram como realizar um manejo sustentável de bioativos de alto valor e gerar renda a partir das plantas nativas.
De acordo com a startup, são utilizadas IA e IoT para analisar fazendas conservadas ou improdutivas e revelar o potencial produtivo de cada hectare. O site da empresa revela que “com um sistema exclusivo formado por inteligência artificial, drones e internet das coisas, a rede neural consegue analisar as imagens para identificar o potencial de cada área, tanto para a produção de bioativos, quanto para o agro tradicional”.
Dessa forma, foram apresentados, por agentes diferentes, em espaços diversos e trilhas distintas, os futuros desejáveis que passam pela aplicação de novas tecnologias focadas em elevar as competências sociais, ambientais e econômicas da sociedade.