Para onde caminha o setor financeiro e quais as principais tendências e inovações tecnológicas deste mercado? A resposta a este questionamento foi o principal foco da Febraban Tech, evento realizado em formato híbrido, entre os dias 9 e 11 de agosto, que contou com a participação de um público estimado em 25 mil pessoas.
Quem visitou a exposição, realizada na Bienal de São Paulo, no Parque Ibirapuera, pode conferir as novidades dos 156 expositores, que trouxeram algumas inovações, como sistemas de prevenção a fraudes, uso de dados para personalização do atendimento, novas tecnologias para meios de pagamento e soluções de cibersegurança, entre outras.
No congresso, que aconteceu paralelamente à exposição, a pauta foi a nova lógica financeira. Os debates abordaram os desafios das fintechs, as tecnologias que irão sustentar o open finance, a introdução de moedas digitais e criptomoedas, as tecnologias blockchain, o advento da Web3, tokens não fungíveis (NFTs), aplicações do metaverso e como isso tudo vai fazer parte da vida das pessoas no Brasil.
Confira, a seguir, as 5 principais tendências para o mercado, evidenciadas pela Febraban Tech.
1. Security by design como origem da cibersegurança
Os golpes e fraudes cibernéticas estão cada vez mais sofisticados. Por isso, não somente as instituições financeiras devem adotar soluções de segurança, como também promover uma transformação cultural. “Todos nós estamos expostos aos riscos”, disse Gustavo Paul, diretor adjunto de comunicação da Febraban, no início do painel que discutiu o conceito de security by design.
Segundo ele, além de tecnologia, é preciso conscientização. A ideia é de que a segurança digital e a privacidade de dados deve ser uma preocupação constante, começando no desenho de qualquer projeto.
“A cibersegurança é tema central em qualquer negócio do setor financeiro, que é o que mais investe, até porque os bancos vendem a segurança ao correntista. Mas precisamos lembrar que houve um aumento de 76% nos ataques hackers em 2021”, pontuou Antonio João Filho, diretor-executivo da Embratel, em uma entrevista ao site Convergência Digital.
Bruno Fonseca, superintendente-executivo de prevenção a fraudes, análise de dados e modelagem de segurança corporativa do Bradesco, explicou os diferentes tipos de golpe existentes hoje, destacando que o principal objetivo é roubar dados – sejam senhas para acesso à rede corporativa, sejam dados pessoais ou de terceiros para a prática de outros crimes.
“A solução para isso é criar formas de viabilizar uma melhor autenticação por usuário, criando camadas de proteção desde a origem, começando com a tecnologia e educação”, disse Fonseca. “A segurança tem que começar desde o design, mas as camadas incluem tecnologia, inteligência de dados, conhecimento do negócio e do cliente e, principalmente, percepção da importância disso por parte de todos”, pontuou.
2. Data driven na tomada de decisões
“A jornada do consumidor passa por meios de pagamento em qualquer hora, em qualquer lugar, e o volume de dados é cada vez maior”, destacou Rafael Coimbra, diretor do TEC Institute e editor de conteúdos do MIT Technology Review Brasil, na introdução do painel que discutiu o conceito de data driven e sua importância.
Segundo Marcela Vairo, diretora de dados, IA apps e automação na IBM Brasil, uma pesquisa feita entre CEOs de grandes empresas mostrou que, para 73% deles, o engajamento com os clientes está entre as principais prioridades para os próximos três anos. Além disso, 60% deles se preocupam em fornecer produtos e serviços mais competitivos, para melhorar a jornada do cliente. “O que está por trás disso são os dados”, disse ela. “Os algoritmos e dados são usados das mais diversas formas no setor financeiro, mas ainda há desafios, como a personalização. A plataforma precisa engajar o cliente, e isso só é possível com o uso dos dados”, afirmou.
Para Rodrigo Vasconcelos, diretor de inteligência analítica do Banco do Brasil, os dados e os modelos analíticos são ativos estratégicos. “A área de inteligência analítica é muito importante para a cultura da empresa”, destacou.
Eduardo Sasaki, CSO do Santander, acrescentou que além das soluções analíticas, as empresas precisam amadurecer para se tornarem data driven, conseguindo usar os dados para a tomada de decisões. “Isso parece simples, mas não é. É preciso criar novos paradigmas, investir em capital humano e profissionais que entendam de inteligência de dados que possam criar soluções analíticas para os clientes”, frisou.
3. Desafios para a nuvem
A migração das empresas para a nuvem exige grandes cuidados, especialmente por parte do setor bancário. “Isso exige avaliação sobre o balanço entre nuvem e infraestrutura própria local (on-premise), gestão de custos e a governança, além da cultura de praticar a responsabilidade financeira com o modelo de gasto variável da nuvem”, disse André Miceli, CEO e editor do MIT Technology Review, na abertura da apresentação.
Cintia Barcelos, diretora de infraestrutura do Bradesco, mencionou que cada vez mais os clientes usam plataformas digitais, e com o open banking a tendência disso é ainda maior. “Isso traz muitos benefícios ao setor, mas também existem desafios, pois a implementação não é tão simples. O conhecimento em cloud é um dos principais, incluindo a especialização dos profissionais, além da gestão multi-cloud”, comentou.
“A escassez de talentos realmente é um grande problema”, concordou Tushar Parikh, country head no Brasil e head de Bancos, Serviços Financeiros e Seguros da Tata Consultancy Services. “A nuvem contribui para a melhor experiência dos clientes. Porém, é preciso ter muito cuidado com a segurança de dados”, frisou. Segundo ele, o Brasil é um dos países mais avançados na América Latina, embora globalmente esteja cerca de três anos atrasado na implantação da cultura cloud.
4. Investimentos incluem IA, 5G e segurança
Tecnologias voltadas à segurança cibernética e inteligência artificial (IA) estão no topo das prioridades em investimentos para 100% dos bancos participantes da Pesquisa Febraban de Tecnologia Bancária 2022, realizada pela Deloitte.
O levantamento mostrou ainda que para 78% dos bancos a análise e a exploração dos dados obtidos via open finance também são uma prioridade, ao lado da transformação cultural das instituições financeiras, com aumento do uso de inteligência artificial e cloud.
“Os consumidores se acostumaram com a velocidade e simplicidade de serviços como o Pix, que foi adotado pela grande maioria dos usuários. Isso elevou as expectativas sobre os patamares de segurança, velocidade e disponibilidade de serviços”, disse Mona Dorf, da Febraban, na abertura do painel.
Sérgio Biagini, líder da área de produtos financeiros da Delloit, explicou que a pesquisa foi realizada no primeiro semestre de 2022, com 35 executivos e mais de 20 instituições. Dentre as tendências, ele destacou que o setor se preocupa com tratamento dos dados obtidos com o open finance (78%), além de mudança cultural (também 78%).
Segundo os entrevistados, o 5G será um dos grandes investimentos das empresas para aproveitar novos modelos de negócio, com inovações tecnológias e mudanças de processos.
O especialista também citou inteligência artificial, blockchain e a tokenização da economia como grandes tendências.
“A expectativa é de que o orçamento total de tecnologia, por parte dos bancos, atinja R$ 35,5 bilhões em 2022, o que representa um aumento de 18% em relação ao ano passado”, disse Biagini.
5. 5G vai mudar relação das pessoas com serviços financeiros
O 5G vai habilitar conceitos como negócios inteligentes, internet das coisas (IoT), edge computing e Agro 5.0. Uma das possibilidades inclui as novas formas de pagamentos autônomos, gerados a partir da combinação 5G e IoT.
Desde que autorizadas e integradas a sistemas bancários, máquinas de diferentes tipos vão poder fazer transferências de valores sem a necessidade de intervenção humana. Essa rapidez exigirá novas camadas de segurança para validação das operações em tempo real.
“O 5G é um divisor de águas no mercado”, disse Gerson Freire, da Dell Technologies do Brasil. “Isso trará diferentes modelos de negócio, com edge, IoT, entre outras tecnologias, em linha com os serviços financeiros”. Segundo ele, existem vários casos de uso do 5G para o setor financeiro, como visão computacional para identificar os clientes, melhorar a segurança, personalizar a experiência dos ATMs (caixas eletrônicos), entre outros. “A própria mobilidade permitirá que os bancos cheguem onde hoje ainda não há acesso”, exemplificou.
“A agência conectada traz uma evolução para a experiência do cliente. O 5G é uma estratégia que permitirá a personalização e o tratamento individualizado de cada usuário”, completou Marcelo Henrique Leite Ferreira, do Banco do Brasil. No estande da instituição, inclusive, foi apresentada uma solução com realidade aumentada, que permite aplicar o novo conceito de atendimento personalizado.