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metaverso morreu

O metaverso morreu, viva o metaverso!

3 minutos de leitura

Em artigo para o Próximo Nível, o jornalista Luiz Pacete fala do novo ciclo do metaverso, que, de fato, não morreu



12/05/2023

Por mais controverso que o título deste artigo possa parecer, a “morte” do metaverso é uma boa notícia para vários profissionais, não apenas os entusiastas de tecnologia. Desde outubro de 2021, quando o Facebook mudou seu nome corporativo para Meta, o tema ganhou projeção e foi o principal assunto daquele e do ano que viria: 2022, não só de tecnologia, mas de comportamento, marketing, moda, entretenimento e várias outras indústrias. A euforia fez surgir uma série de teorias, projeções, possibilidades, pesquisas, reportagens e até mesmo cases sobre o assunto. 

Mas em novembro de 2022, quando a OpenAI lançou o ChatGPT, quase que instantaneamente, inteligência artificial (IA) assumiu os holofotes. A busca pelo verbete metaverso praticamente desapareceu. O mais interessante, ao observar agora, o “desinteresse” pelo tema é que tudo isso estava previsto no “The Metaverse Hype Cycle”, um gráfico da Gartner que apontou exatamente o ciclo recente de vida do metaverso. O termo, que surgiu em 1992 no livro “Snow Crash”, ganhou ascensão meteórica com a mudança da Meta, sustentou o interesse durante o ano passado e segue em queda até o próximo ano, até entrar em uma linha de estabilidade.

Metaverso não se resume à Meta 

No Web Summit Rio, essa dinâmica se manteve presente. Se na edição do ano passado, que ocorreu em Lisboa, e em vários outros eventos como o SXSW, por exemplo, metaverso monopolizou as discussões, neste ano, no Rio de Janeiro, o tema esteve presente diretamente apenas em quatro painéis. Enquanto ChatGPT e IA tomaram os palcos.

Dos que trouxeram o tema metaverso, o mais significativo foi Arthur Madrid, CEO do The Sandbox, plataforma imersiva que chegou a ser avaliada em US$ 4 bilhões no ano passado. Segundo Arthur, a IA é parte fundamental da evolução do metaverso por permitir produção de conteúdo em escala e, principalmente, resolver o problema de interação entre plataformas, a chamada interoperabilidade.

Arthur, inclusive, chegou a criticar a Meta reforçando que até aqui, ficou claro que a companhia não está interessada em abrir sua plataforma imersiva Horizon Worlds para a colaboração de outras empresas e startups. E é neste ponto que eu faço uma provocação: afinal, o que é metaverso? Ou fez sentido, nesses últimos dois anos, discutirmos tanto sobre o tema de forma polarizada? Ou seja, pegou ou não pegou, deu certo ou não deu?

Arthur Madrid (Crédito: Eóin Noonan/Web Summit Rio – Flickr)

Quando olhamos somente para o movimento da Meta, o grande pivô de estarmos aqui falando sobre o tema, talvez diríamos que o metaverso flopou, em março, por exemplo, Zuckerberg apontou que agora o foco é IA. No entanto, é importante ampliarmos a discussão e entendermos do que estamos falando quando falamos de metaverso?

Mesmo no Web Summit Rio, a ausência da Meta foi sentida. A empresa estaria representada por Naomi Gleti, head de Produtos, que conversaria comigo sobre o tema, mas a empresa cancelou a participação algumas semanas antes do evento. 

Um estudo recente da KPMG mostrou que, ainda que o verbete tenha esfriado no Google, essa indústria, que conecta vários tipos de tecnologias como realidade virtual (RV), realidade aumentada (RA), games, blockchain, o conceito de Web3 e a própria IA segue no radar dos investidores. Pouco mais de 90% dos consultados afirmaram que metaverso segue como a próxima fase da internet. Além disso, 45% dos fundos de venture capital mantêm aportes para empresas relacionadas nos próximos anos. Apesar do entusiasmo aparente, 70% deles, antes de investir, se preocupam com questões regulatórias, privacidade e adoção.

Neste sentido, é muito importante entender que quando esses investidores demonstram otimismo com o metaverso, não necessariamente estão se referindo a esse mundo virtual centralizador que esperamos, apenas, mas a uma série de tecnologias que, muitas vezes, de forma separada já compõem essa indústria. 

Se levarmos essa discussão para a indústria, cerca de 60% das empresas globais aplicam VR para engenheiros terem acesso a locais de riscos ou apenas economizarem com viagens internacionais. No design, uma série de marcas aplicam realidade aumentada no desenvolvimento de novos produtos. Nos games, indústria que foi uma referência para o tema, seguem as evoluções potencializadas agora também pela IA. Na moda e na creator economy, avatares continuam em experimentação. No mundo das criptomoedas, o blockchain se mantém como base de uma série de evoluções. Sem dizer a Web3, que vai pavimentar todos os caminhos dessa nova internet. 

Mais do que olhar para o metaverso como uma tecnologia ou conceito que se define por si, é interessante entender do que estamos falando quando falamos de metaverso. E o motivo pelo qual as tecnologias e conceitos relacionados seguem mais vivos do que nunca.

Voltando à provocação do título deste artigo, é muito bom que o metaverso esteja morto, porque a partir de agora a discussão deixa a euforia e passa a ser mais tangível. Aliás, aguardem, o mesmo acontecerá com o ChatGPT, e em alguns meses estaremos aqui falando de outro hype. 

* Luiz Pacete é editor de Tecnologia e inovação da Forbes Brasil e head de Conteúdo da MMA Latam.



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