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Fintechs estão assumindo protagonismo do setor

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Para o especialista Arthur Igreja, as fintechs amadureceram e a tendência, mais do que cobrir gaps dos bancos, é que elas se tornem protagonistas do mercado



Por Redação em 10/02/2022

Até um passado recente, havia no Brasil cinco grandes instituições financeiras, que aos poucos foram se modificando, com o desenvolvimento tecnológico. A imagem de um estabelecimento físico, com cofre, caixa e toda a infraestrutura dos bancos foi se desmontando com a transformação digital, viabilizando também a entrada de outros grupos nesse mercado. Esse cenário, na avaliação de Arthur Igreja, professor da FGV e especialista em economia compartilhada e inovação disruptiva, foi o pontapé inicial para o surgimento das fintechs no Brasil. 

“As tecnologias foram ficando incrivelmente mais democráticas e acessíveis, o que impulsionou o surgimento de novos formatos de negócio”, disse ele, em entrevista ao Próximo Nível. “Sem a musculatura dos bancos, mas com as ferramentas adequadas, as fintechs apostaram na diferenciação de serviços, na personalização do atendimento, inovando em um segmento que até então ainda era bastante engessado”, completou. Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista exclusiva. 

Qual o cenário atual das fintechs no Brasil?

Arthur Igreja – Essas empresas surgiram com uma proposta de inovação e customização dos serviços, como estratégia para alcançar o público. Considero que existem dois tipos de fintechs: aquelas que atendem diretamente o cliente, como o Nubank ou PicPay, e outras que ficam “atrás da cortina”, mas que propõem soluções muito interessantes e inovadoras. Um exemplo é a Transfira, uma fintech que muito antes da criação do PIX já oferecia uma solução para transferências de valores, inclusive nos finais de semana, sem taxas de TED ou DOC. Existe um mundo de fintechs que revolucionam situações triviais, mas ainda não são tão conhecidas do público. O setor, hoje, está em um estágio de maturidade. 

Um relatório recente do Distrito aponta que no primeiro trimestre de 2021, as fintechs receberam US$ 517 milhões em aportes, o que representa 25% de todos os recursos investidos em 2020. Com o ambiente regulatório construído pelo Banco Central por meio de resoluções que reduzem a burocracia – com destaque para o PIX e o Open Banking – além da aceleração da digitalização de negócios em função da pandemia, diversas oportunidades têm surgido para o crescimento e desenvolvimento dessas empresas.

Hoje, as fintechs têm super times, são empresas muito capitalizadas, incrivelmente profissionais, com grande capacidade de comunicação e conseguem milhões de clientes muito rapidamente. Muitas fintechs têm valor de mercado superior ao de bancos. São tempos muito aquecidos para elas e, com open banking e open finance, a tendência é de que cresçam ainda mais.

As fintechs utilizam o mesmo nível e tipo de tecnologias das grandes instituições financeiras ou há diferenças?

Arthur Igreja – Em parte, sim. Essas empresas surgiram a partir das inovações tecnológicas implantadas pelas instituições bancárias, mas hoje os bancos tradicionais têm uma fragilidade adicional, que é lidar com o legado, ou seja, com tecnologias já antigas. Existem bancos que ainda usam servidores bastante antigos, com linguagem de programação cobol. Afinal, é complexo – e perigoso – refazer todo o sistema. 

Quais as inovações das fintechs, em termos de tecnologia?

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Arthur Igreja – Sem dúvida, a principal é a nuvem. Antes, para se ter uma plataforma que ganhasse escala, era necessário ter um mundo de servidores, o que inviabilizava muitos investimentos. Hoje, todos os dados ficam na nuvem. 

Outro aspecto importante é que as fintechs são empresas enxutas e que refletem tecnologia. A pandemia acelerou esse processo; atualmente, não é mais necessário ter um escritório, com grande infraestrutura, para acomodar 200, 300 funcionários. O trabalho remoto também tornou as fintechs mais viáveis. Além disso, o crescimento da mobilidade é um aspecto importante. As pessoas conseguem acessar serviços em qualquer lugar em que estejam por meio de um smartphone, o que aumenta o acesso. Novas linguagens de programação, inteligência artificial, análise de dados… tudo isso faz com que as fintechs se aproximem de seus usuários e ofereçam soluções personalizadas, coisa que os bancos não fazem. Essas empresas refletem as transformações pelas quais a sociedade está passando, são um sinal dos tempos.    

A pandemia também trouxe uma mudança do comportamento dos consumidores, o que os aproximou das novas soluções?

Arthur Igreja – Certamente. Com a pandemia, a sociedade passou por uma grande digitalização e as pessoas passaram a se aproximar mais da tecnologia. O tema se tornou mais palatável – inclusive em todas as faixas etárias. Nesse sentido, podemos dizer que as fintechs tinham a oferta certa para o que o momento demandava, e isso também contribuiu para o seu desenvolvimento. 

A chegada do 5G deve trazer impulso às fintechs?

Arthur Igreja – O 5G traz possibilidades interessantes, pois tem a queda de latência, que permitirá diversas coisas, como maior uso de inteligência artificial. A IA é uma aplicação pesada, precisa de memória, de processamento. A banda maior tira essa necessidade, porque os arquivos estão em nuvem e a conexão é rápida. 

Com o 5G vários serviços de realidade aumentada e realidade virtual serão possíveis. Hoje, a IA já é usada, mas não no auge de seu potencial. 

O universo das fintechs tem tudo a ver com metaverso também. Estamos vendo um enorme crescimento de tokens não fungíveis (NFTs), criptomoedas, microcoins, altcoins. O metaverso é a criação de um outro mundo a partir do zero, imersivo e social. 

As pessoas estão comprando terrenos, itens, NFTs dentro do metaverso, e isso está valendo uma fortuna. Essas soluções inovadoras e disruptivas vêm das fintechs, não das instituições bancárias. 

A blockchain trouxe várias mudanças para as fintechs neste sentido, não?

Arthur Igreja – Sim, os smart contracts e a tecnologia de blockchain trazem segurança para as transações. No mundo cada vez mais digitalizado, isso é essencial. Além disso, as fintechs não têm como competir, em porte, com os bancos. Por isso elas propõem o novo. 

Você considera que o público está preparado para essas mudanças, como o metaverso?

Arthur Igreja – Veja, se dermos um passo atrás, vamos lembrar que no passado ter um cartão de crédito era um diferencial oferecido pelos bancos. Hoje qualquer pessoa consegue ter um cartão, assim como o PIX teve enorme aceitação no Brasil. A tendência é de que as pessoas absorvam as inovações e passem a ter mais confiança nos serviços. Existe um amadurecimento digital por parte do consumidor também e, cada vez mais, as pessoas estão percebendo que as fintechs simplificam suas vidas. 

Na minha visão, as fintechs melhoram as experiências do consumidor e reduzem os gaps processuais dos bancos. Nos últimos anos, essas empresas estavam melhorando coisas ruins dos bancos, seu diferencial eram soluções que resolviam as brechas deixadas por tais instituições. Agora, com metaverso, blockchain e outras tecnologias, as fintechs deixaram de melhorar o que já existe e estão propondo coisas novas, assumindo o protagonismo. 



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