As pessoas estão no centro do processo de transformação digital. “Essa mudança não é sobre tecnologia, mas sim sobre como as pessoas envolvidas se relacionam com ela”, disse o especialista em transformação digital Ricardo Gazoli, que é professor convidado da Fundação Dom Cabral, durante o evento Habilitando as indústrias para o próximo nível: caminhos para a transformação digital, realizado pela Amcham, com patrocínio da Embratel.
O debate, cujo tema foi como habilitar as indústrias para o próximo nível, mostrou que o digital tem que ser integrado à cultura da empresa e fazer parte das estratégias. “É preciso engajar as equipes, desenvolver suas competências e trabalhar o processo de mudanças. Toda transformação bem estruturada impacta em processos”, afirmou o CTO da Gerdau, Denis Paim.
Aprendizado precisa evoluir
Tecnologias como Big Data, analytics, inteligência artificial e internet das coisas são essenciais para que os processos se tornem mais ágeis e seguros, proporcionando maior competitividade para as empresas. Na visão dos participantes do evento da Amcham, o nível de maturidade digital ainda é baixo e as organizações devem rever as suas estratégias, para aproveitar o avanço que o 5G deve proporcionar para a implementação das tecnologias citadas.
Segundo o diretor de 4.0 Business da Inova Business School, Antônio Grandini, que moderou o debate, um estudo elaborado pela organização mostrou que 98% das empresas ainda estão em um processo de aprendizado. “Criamos um índice para entender a jornada digital e o que seria essa maturidade, além do que é preciso fazer para atingi-la. Estabelecemos quatro pilares para isso: planejamento e estratégia futura; familiaridade com a tecnologia; adoção de ferramentas para digitalização do negócio; e cultura da inovação na empresa”, explicou.
Segundo ele, o índice confirma que as companhias brasileiras estão em uma jornada ainda “complicada”, dentro de um processo de evolução que demandará alguns esforços. “Detectamos que 70% das empresas ainda enfrentam grandes barreiras, como falta de engajamento dos funcionários e pouca clareza nas regras. Outras 28% até têm equipe para iniciar a jornada, mas pouco foco”, destacou.
Para o gerente de produtos da Embratel, Cristiano Moreira, os desafios passam por três pilares principais. “O primeiro é cultural, pois cada empresa tem de se preparar para essa transformação, de dentro para fora. O segundo é tecnológico: temos desafios de algoritmos, softwares, dispositivos e equipamentos que vão levar todo este desenvolvimento dos pilares da indústria 4.0 para uma digitalização. E por fim, o pilar estrutural, que inclui infraestrutura e plataformas”, detalhou.
Como ir para o próximo nível?
Moreira explica por que a Embratel é uma habilitadora de soluções para as empresas que queiram ir para o próximo nível na transformação digital: “Quando falamos nos próximos passos, o que percebemos é que existe uma dependência de infraestrutura. É ela que possibilita que os times de inovação tragam, para o seu dia a dia, a aplicação das estratégias para a indústria 4.0”, pontuou.
O especialista mencionou que as empresas têm níveis de maturidade distintos e, por isso, precisam de uma assessoria para compreender em que ponto da jornada 4.0 estão e como seguir em frente, trazendo benefícios para o negócio e melhorando a experiência de seus usuários. “Isso sempre andando junto com uma plataforma de inovação digital”, disse.
Na Gerdau, o grande desafio, segundo Paim, é não deixar o digital isolado. “Isso tem de ser parte do negócio. Para tanto, precisa estar na estratégia e na cultura da empresa. Afinal, cultura e estratégia andam juntas”, afirmou.
Ele também lembrou da importância do time e da liderança para a transformação cultural das empresas. “É preciso atrair e engajar o time nas iniciativas e trabalhar o processo de mudança”.
Pessoas no centro das estratégias
As pessoas estão no centro do processo de transformação digital, segundo Grandini. “Aliás, a transformação digital é feita por pessoas e para pessoas”, reforçou.
Paim, por sua vez, pontuou que a cultura digital tem de ser parte do negócio, mas que isso é um processo de inovação contínuo – e os negócios não podem parar enquanto as transformações acontecem. “Ou seja: as inovações precisam ser incorporadas de forma contínua, e isso realmente demanda uma mudança de mentalidade por parte de todos os profissionais envolvidos”, disse.
Uma pesquisa do Gartner confirma que a maior barreira para a transformação digital é a cultura. Mundialmente, isso representa 46% da dificuldade e, no Brasil, chega a 64%. “Existe um gap digital que mostra a falta de talentos… As pessoas precisam acompanhar essa evolução e ter um propósito”, disse Gazoli. Segundo ele, as organizações devem ter um olho no core business e outro na transformação, e fazer com que ambas caminhem juntas.
Tendências de tecnologias que serão diferenciais
Grande parte das tecnologias já existem, mas os especialistas concordam que vivemos em um estado frequente de transição. “A inteligência artificial vai evoluir, por exemplo, e, no futuro, vai tomar decisões por nós. Já a IoT vai acelerar com o 5G e o metaverso, e as realidades virtual e aumentada também estarão nesse contexto e serão muito importantes”, disse Gazoli.
Em sua avaliação, dois conceitos são fundamentais: be digital e go digital. “Ou seja, as empresas ‘be digital’ precisam entender como colocar robôs, drones, eliminar uma atividade e usar o machine learning e a IA para decisões baseadas em dados. Já as ‘go digital’ devem saber como viabilizar inovações, criar novos negócios, ser disruptivas e relevantes no mercado”, ressaltou.
Moreira destacou que existe uma expectativa de o 5G viabilizar todo este processo. “Toda essa evolução tem a ver com o 5G. As tecnologias já vêm se desenvolvendo há anos, mas à medida que o 5G avança, as ferramentas habilitam novas oportunidades de uso”, salientou.
Paim ressaltou o uso das soluções na unidade de Ouro Brando da Gerdau, que implementou o conceito da indústria 4.0, em parceria com a Embratel. O projeto contou com uma rede 5G privativa para que as soluções pudessem ser colocadas em prática. “Isso nos permite criar uma siderúrgica conectada, inteligente, com gama de tecnologias para impactar resultados na empresa”, destacou.
Moreira usa o exemplo da siderurgia 4.0 para concluir que a digitalização será, cada vez mais, um diferencial competitivo, que determinará o próximo nível das empresas, nos mais diversos segmentos. “A economia compartilhada nos permite ir além, e acredito que a gente vai habilitar o próximo nível de vários negócios com ela”, finalizou.