redes privativas nas corporacoes Da esquerda para a direita: Fernando Paiva, editor do Mobile Time; Tiago Facchin, gerente de tecnologia da Rede Globo e Cristiano Moreira, gerente de produtos 5G da Embratel (Foto: Marcus Mesquita/Mobile Time/Reprodução)

Avançam as aplicações de redes privativas nas corporações brasileiras 

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Band, Gerdau, Petrobras e Rede Globo mostraram os avanços nas aplicações de uso de redes privativas durante o MPN Fórum 2024



Por Ana Azevedo em 02/07/2024

Discutir oportunidades e desafios do mercado de redes privativas foi o objetivo do MPN Fórum, seminário promovido pela Mobile Time, no último dia 27 de junho, em São Paulo. 

Como regulador do sistema, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), vem sendo acionada por grandes operadores na busca de tecnologias mais avançadas. Segundo o superintendente de outorga e recursos à prestação da Agência, Vinicius Caram, havia um descompasso entre os interesses das empresas prestadoras e as ofertas. 

Para ele, o país precisa crescer, não só com as redes móveis, do modelo tradicional de atendimento, mas também com redes diferenciadas. “A médio prazo, o 5G vai ser a tecnologia âncora para tudo: indústria, agronegócio, portos, aeroportos e outros”, disse.

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Fernando Paiva, editor do Mobile Time (à esq.) e Vinicius Caram, superintendente da Anatel (Foto: Marcus Mesquita/Mobile Time/Reprodução)

Caram ressaltou que os modelos atuais ainda estão muito restritos às áreas urbanas, e que é preciso investir em outros modelos que atendam pontos específicos onde estão áreas produtivas. “Para fazer a cadeia logística do agro ou da indústria, nas plantas fabris, temos de fazer uma cobertura maior ou as operadoras irem para soluções próprias. O importante é manter a coletividade, independente do modelo ser próprio, híbrido ou direto pela operadora”, defendeu.

Citando o programa de neoindustrialização do governo, Caram disse que o índice de digitalização da indústria está em 18%, enquanto a meta do governo é chegar a 80%. Para facilitar a identificação dos investidores, a Anatel criou uma relação com as principais faixas de frequências para redes privativas, para sinalizar quais podem ser utilizadas.

A implementação das redes privativas pode ser realizada pela própria entidade interessada ou em forma de parceria com prestadoras de serviços de telecomunicações. Para superar os principais desafios de conectividade na indústria, como barreiras relativas ao custo de implementação de redes privadas, a Anatel tem disponibilizado faixas de radiofrequência para as quais há padrões internacionais estabelecidos e maior disponibilidade de equipamentos.

Caram explicou que a Anatel está aprimorando a transparência de seus dados e sua regulamentação para favorecer a implantação de redes privativas. A superintendência está avaliando plantas do setor para atualização dos requisitos técnicos para a faixa 450 MHz, por exemplo, que pode favorecer a implementação das redes com maior cobertura.

Rede privativa na Band e na Gerdau

Para demonstrar o que vem acontecendo no mercado, o MPN Fórum reuniu uma série de cases. O arquiteto de infraestrutura da Gerdau, Eduardo Henrique Pinheiro dos Santos, explicou o que foi feito na planta de Ouro Branco, a maior da empresa, que equivale a uma cidade com 40 mil habitantes.

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Eduardo Henrique Pinheiro dos Santos, arquiteto de infraestrutura da Gerdau (Foto: Mobile Time/Reprodução)

Segundo ele, o fato de estar em uma unidade fabril aumenta muito a complexidade das operações, principalmente por conta das questões de segurança. Ele explicou como se deu o processo desde a implantação da fibra óptica, até a parceria com a operadora Claro, que permitiu aumentar a cobertura, implantar a rede privativa com a instalação de chips fazendo com que todos os “devices” ficassem dentro dessa rede. 

O ponto mais crítico foi a construção de duas torres para ampliar a cobertura da rede 4G e 5G para 100% da unidade, tanto na rede privada quanto na pública.  “Na área oeste da Usina não tínhamos comunicação. Para se ter ideia da complexidade, o planejamento para construção das duas torres levou nove meses”, revelou Santos.

Embora em uma área pequena, uma média de 700 metros, a aplicação de uma rede privativa ao ar livre também é complexa, segundo o coordenador de engenharia de transmissão da Band, Douglas Militão. Ele e o engenheiro de projetos, Ítalo Aureliano, explicaram a utilização da tecnologia para a transmissão do carnaval e outros eventos, como a Fórmula 1.

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Ítalo Aureliano, engenheiro de projetos da Band (à esq.) e Douglas Militão, coordenador de engenharia de transmissão da Band (Foto: Marcus Mesquita/Mobile Time/Reprodução)

Dentre os desafios, está a implantação de todo o sistema em um curto espaço de tempo, sem o domínio de todos os usuários e com um elevado patamar de público. Os dois especialistas da Band explicaram que para superar esses desafios foi preciso encontrar algumas oportunidades para evoluir o sistema, deixando-o um pouco mais agnóstico, “uma vez que no ao vivo não se tem tantas oportunidades para fazer ajustes”.

Todo o fluxo do evento, desde a parte de captação das câmeras e microfones, é transmitido até uma central dentro de uma unidade móvel. Essa conexão é feita principalmente por cabos e microlinks que se interligam por microondas. “As mochilinks (mochilas com os modernos sistemas de transmissão de links) se conectam em uma rede 4G ou 5G e isso dá um pouco mais de mobilidade em alguns pontos. A central tem todos os equipamentos para fazer edição, gravação e transmissão do evento. Isso é enviado para um outro caminhão de apoio, que encaminha as imagens e dados para a emissora onde eles são retransmitidos”, conta Aureliano.

Já na Petrobras, a conectividade é fator preponderante para explorar com mais acurácia as reservas de óleo e gás, além de otimizar os reservatórios. O consultor sênior de Tecnologia da empresa, Maximilliam Vieira, explicou que a empresa conecta 300 unidades offshore em diferentes tecnologias e 1380 km de cabos submarinos para atender às demandas de negócios.

Rede Globo e Petrobras ampliam casos de uso

A Petrobras possui projetos para mais de 70 pontos de conectividade, o que a permite operar plataformas direto de salas de controle em terra. Vieira explicou que eles acreditam na conectividade e nas redes privativas como habilitadoras da transformação digital da companhia.

Antes de contar o caso da Rede Globo, o gerente de produtos 5G da Embratel, Cristiano Moreira, explicou como foi criada a família de produtos que recebeu o nome de Embratel One. “Essa família passa por sabores. O Embratel One Full, é o mais convencional, que é o núcleo da rede combinado com acesso e ele é mais oneroso ao mercado. 

A outra opção é o Embratel One Puro, o qual leva uma rede de acesso, frequência e pacote de rede dedicado, tudo “tunelado”, mas reutilizando o núcleo da rede da Claro e Embratel. “Aqueles casos em que percebemos que existe a necessidade de baixa latência, levamos o Embratel One Up. Coloco ali dentro o UPF junto com aquele acesso dedicado e a parte de nível de rede para fazer a coordenação das antenas e do SIMcard.”

No caso específico da Rede Globo, o gerente da Embratel explicou que dentre os muitos experimentos feitos, este ano o destaque ficou para a introdução do conceito de slicing, no qual é garantido ao cliente um percentual de capacidade de conectividade. “Obviamente que se a Rede Globo não estiver utilizando, o massivo invade aquela capacidade, mas a partir do momento em que ela precisar utilizar, ela volta, de forma fluída. Esse é o sonho e a promessa que o 5G traz no network slicing. Quando entro nele, consigo compartilhar aquele custo de infraestrutura da operadora e ter produtos ainda mais econômicos”, detalhou.

A Embratel desenvolveu dois produtos para a emissora, um convencional e outro como projeto especial. “O primeiro é uma pulseira que fala que eu tenho uma certa preferência e o segundo é o rampartition. Dentro de uma determinada área, eu te garanto, te dou toda aquela necessidade para a sua aplicação. Tenho uma pista dedicada, que tira todo mundo da frente e ele passa sozinho. Network slicing é uma realidade, já temos planos de monetização e sabemos como fazer. Ou seja, temos um caso real”, disse.

Tiago Facchin, gerente de tecnologia da Rede Globo, explicou que a emissora utiliza muito o conceito 5G, principalmente em grandes eventos, que precisam de mobilidade e agilidade. “O tamanho da infraestrutura que a gente monta é diretamente proporcional à qualidade que a gente quer dar ao evento. A quantidade de câmeras é um ponto muito importante, é uma realidade para quem monta isso. Não fazemos o evento completo em cima de uma rede 5G. A gente tem uma segmentação, de acordo com o detalhe do que vai ser mostrado”, explicou.

Facchin completou que nos Estúdios Globo existe uma rede privativa e estão sendo feitos alguns testes. No último Big Brother foram utilizadas câmeras com robôs trafegando por essa rede, tanto no seu controle, quanto no retorno de vídeo, por exemplo. 

“Estamos desenvolvendo a implantação de uma rede privativa 5G na qual temos o domínio completo, com um core gerenciado de propriedade da Globo. O que a gente tá avançando junto às diversas operadoras é como integrar esse nosso core ao core da operadora”, revelou o especialista. “Quando vamos para um local de evento, estamos dentro desse conceito de redes híbridas, no qual vamos avançar para começar a diminuir os microlinks. Queremos fazer isso com a conjunção de redes privadas, públicas e network slicing”, concluiu. 



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